O Balneário x a Cidade Grande ou então: A primeira vez que xinguei alguém no trânsito.
O Rio é simples, a sua beleza é natural.
O Rio tem cara lavada, usa havaianas e estranha pessoas super produzidas.
No Rio o papo é reto, e pelo menos no mundo que vivia, as ruas eram eram paralelas e transversais.
Ok, confesso, eu nasci com deficit na minha bússola e quando comecei a entender o ir e vir, só precisava saber aonde estava o mar. Quando comecei a me aventurar por Botafogo passei por dificuldades, lá não era tão geométrico quanto Leblon, Ipanema e Copacabana.
No meu Rio, as curvas em sua grande maioria eram de noventa graus. Se eu estava na Prudente e precisava chegar na Barão da Torre era só virar noventa graus em uma transversal. Simples como o Rio.
No Rio já diz um amigo, não se usa setas. “Para que? Se o carioca não vai dar passagem mesmo?” Então digamos que nunca fomos exemplos de motoristas.
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Troca a cena e vamos nos transportar para São Paulo. Cidade imensa, onde a Zona Sul existe em vários e distantes lugares.
Existem ladeiras, ô como existem! E existem umas diabas de umas valas nas ruas que com certeza já arranharam muito fundo de carro de carioca.
Aqui o sinal, ou melhor, o farol é mais afastado, o que no começo era esquisitíssimo, mas depois aceitei com paz no coração. Uma amiga carioca expatriada costuma dizer: “Carioca só sabe que o sinal abriu quando buzinam atrás.”
É Camila, nessa eu tenho que concordar.
Estanhei também os nomes das ruas, onde o primeiro nome sempre está em CAPS LOCK.
– Cara, assim nunca vou saber o nome todo da rua. E aqui em São Paulo não fazem tanta questão de nome e sobrenome? Hunft.
– Nicole, pensa.. Lá no Rio as letras são todas miúdas e você meio míope está dirigindo e procurando uma rua, você está lá franzindo a testa e quando acha a rua ela já passou porque você só enxergou nos quarenta e cinco do segundo tempo. Faz todo sentido o caps lock.
– Hm, ok. Mas ainda me incomodo com isso, SP tem muitas ruas e de repente, alias com certeza, existem mais Jerônimos por ai. E quem garante que a 23 é a de Maio e não a de sei lá Abril? Alias a tal da 23 é de Maio?
Indo um pouco mais além comecei a transitar pela região que moro, Alphaville.
Alphaville é um mundo a parte, completamente. É um EUA no meio de SP, alias, pegando a Castelo.
Lá no Rio compreendia o sentido de rotatória, apesar de ver poucas, entendia o sentido de agulha (na estrada). Mas pelas bandas de cá as curvas são completamente diferentes, ou melhor não tem noventa graus.
As vias são largas e as curvas muito loucas. Estou aqui há quase dois meses e até agora só me entendo no meu quarteirão praticamente – bússolas issues.
Beleza. Dirigir em um lugar que você conhece, mesmo você não tendo experiência te dá certo conforto porque você sabe para onde precisa ir.
Eu já tenho agonia de a pé, estar indo para algum lugar que uma pessoa me guia. Sou ansiosa, preciso saber já o caminho que irei traçar e ser avisada na esquina que preciso virar e não seguir em frente, isso me dá muita agonia.
Agora pense dirigindo a primeira vez em um lugar que não tenho a mínima intimidade. Precisei conhecer as curvas e a força da física fazendo-as! O que pode ter gerado certo desconforto nos motoristas atras de mim, mas ema ema ema. Sempre fui péssima em física e essa prova pratica precisava ter índice de aprovação bem alto.
Ser teleguiada então pelo carona nem se fala, mais agonia ainda quando meu guia me olhava feio quando eu não ia para a pista que seria tão óbvia para ele. Eu mal sabia se eu tinha que ir reto ou virar em uma curva mágica caramba!
Mas tudo bem. Já que tô na m*rd# da primeira vez dirigindo habilitada, vamos fazer isso em terras nunca dantes dirigidas, ou melhor, compreendidas.
Concluí então que sou muito independente para depender de instruções externas, mas sei que em SP preciso desapegar quanto a isso, porque o Waze será meu pastor e do transito ele me informará, mas Senhor!! Faz a bússola funcionar!! A MINHA!
Na Alameda Rio Negro (paulista é chique, é ALAMEDA, rua é muito balneário) estava eu na pista do meio naquele transito meio lento, freia, acelera, freia, acelera.
(Quero mandar um beijo para quem inventou o carro automático, se fosse manual teria passado vergonha e ouvido buzinas hoje em meio a ladeirinhas e transito intenso).
Mas voltando.. Lá estava eu na minha pista do meio, mal andando, quando uma caminhonete com um energúmeno sai de algum lugar que estava estacionado e se materializa na minha faixa sem ao menos pedir licença, seta, nada!
– Seu animal!!! Não sabe pedir licença não? Saiu de um lugar como o seu vai para a primeira pista, da direita, seu imbecil!!!
Quando já estava exaltada o namorado falou calmamente:
– Olha o tamanho desse carro, vai discutir?
– Mas ele tá errado, cacet@! Fez merd@! Isso é física (oi?). Dois corpos não cabem no mesmo lugar. Resmunguei tendo minha primeira revolta de trânsito.
Esse diálogo aconteceu enquanto o cara plotava na minha pista, do meio, e endireitava o carro.
No que ele endireita o carro vou lendo lentamente a placa:
RJ – Nova Iguaçu.
– Ah lá, carioca.
E eu em um rebote automático bato a mão no volante e digo:
– Tinha que ser! Aí, carioca ô! Sem educação.
E aí em um surto anti-minha-cidade-idolatrada realizei que paulistas definitivamente são mais educados no trânsito.
Sorte do dia: Se eu fizer besteira na placa está escrito bem bonitinho: BELO HORIZONTE.
Ahá! Carioca eshperta!