E lá estava ela esperando pacientemente seu namorado buscá-la depois de um longo dia de trabalho.
Ela já entendia que o famoso “chego em cinco minutos” sempre foi uma metáfora, muitas vezes tendo o trânsito como principal enganador, e por isso resolveu ir à forra, ou melhor, à banca.
Adquiriu um exemplar da SuperInteressante lacrado com aquele papel-filme eu-não-ando-com-estilete-caceta. Enquanto travava uma guerra para abrir seu novo exemplar, a chuva começou a cair. Ela estrategicamente correu para dentro de um orelhão e riu ao realizar que havia arranjado uma nova função para aquela concha já tão obsoleta.
Depois de seu relance de volta ao passado muito distante, continuou a luta da embalagem. Quando já estava levando a revista à boca bem no estilo era das Cavernas (ela estava dentro de um orelhão na chuva, ninguém testemunharia tal voracidade) a revista foi ao chão.
Droga! A abertura via oral não seria mais possível e depois de mais alguns olés ela finalmente abriu sua revista.
A revista vinha com um brinde, um ingresso para o Hopi Hari. Olhou, olhou e por alguns milésimos de segundos até se imaginou na fila junto com um bando de crianças “de” domingo, mas aí uma gota entrou em seu pé e ela voltou ao mundo real.
Correu até a banca e perguntou para o senhor que havia lhe vendido a revista:
– O senhor tem filho pequeno?
Ele a olhou no maior estilo “que mulher non sense é essa na chuva?” e respondeu meio com pé atrás que sim, ele tinha filho pequeno em casa.
– É que eu ganhei um ingresso do Hopi Hari e achei que uma criança poderia fazer melhor uso do que eu, dá para o seu filho então por favor?
Ele sorriu meio aliviado e fez com que sim com a cabeça.
– Ah, sim. Obrigado.
Enquanto voltava para seu guarda-chuva, escutou o senhor ligando para seu filho e tendo o seguinte diálogo:
– Filhão, domingo vamos ao paRque! Papai vai te levar no Hopi Hari!
E do outro lado da linha imaginou uma criança soltando fogos de alegria.
Sim, esse seria seu happy end até ela dividir o acontecido com o namorado, que finalmente havia chegado. Ele a olhou e falou:
– Meu amor, essa criança já não deve mais aguentar ir ao Hopi Hari de tanto que ganha ingresso da revista.
Ela franziu a testa, piorando mais ainda o serviço futuro do dermatologista lutando contra as marcas de expressão, e retrucou:
– Mas a revista vem lacrada pô, não estraga o final da minha história!