Hoje meu cachorro vai castrar. Desde que agendei a cirurgia, notei que meu namorado ficou comovido. Ele passou a olhar o Francisco com outros olhos. Não mais olhos de machos lutando pelo troféu de alfa da casa, mas olhos de parceiros de bolas.
É. Só um macho sabe a dor e a delícia de ter duas bolas.
O namorado, depois de convencido que a castração ocorreria de qualquer forma, passou a tratar Francisco com piedade.
Muita piedade.
Francisco óbvio, percebeu.
Comentei com uma amiga sobre a castração, ela disse que no caso dela, o marido surtou, proibiu a cirurgia para o cachorro dela e que eles deveriam tentar outros meios para acalmar o parceiro de bolas.
Ela me disse que iria tentar.
A irmandade masculina é curiosa, e forte, não importa o reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie. (Cara, só lembrei disso porque nunca mais esqueci o Rei filósofo classifica como ordinária a família do general espartã. Obrigada, colégio. <3)
Hoje ao se despedir, meu namorado olhou no fundo dos meus olhos e perguntou:
– Ele não vai ficar bobo não, né? Não vamos castrar não, eu aceito ele do jeito que ele é, destruindo o sofá e rosnando para mim para tentar pegar o posto de macho alfa.
– Amor, vai ficar tudo bem.
E lá fui eu a caminho do veterinário.
O outro macho, que manterá suas bolas, já ligou diversas vezes em busca de notícias.
Francisco que é bem macho, tremeu as patinhas enquanto esperávamos na clínica.
Quando o veterinário então o levou embora, instintivamente, Francisco colocou seu rabo entre as pernas, em uma ultima tentativa de quem sabe assim, proteger sua masculinidade.
E enquanto espero ansiosa o Doutor me ligar, tenho certeza absoluta, que em um escritório em São Paulo tem um macho sentindo toda compaixão que possa existir nessa vida.
Afinal, só os machos se entendem.