Fazer uma faxina em suas gavetas requer coragem!
Coragem para jogar fora o velho para dar lugar ao novo – que um dia será velho também.
E o curioso nessa história de faxina é que na maioria das vezes nossas intenções são completamente superficiais.
– Vou passar um paninho aqui, tem tanta quinquilharia nestas gavetas que está me dando alergia!
É o nosso inconsciente gritando por uma faxina.
Uma faxina emocional.
Quem nunca começou a ler um livro e empacou? Quem nunca ouviu falar daquele amigo que largou a terapia bem na hora da verdade?
O ser humano empaca, não adianta. Nós empacamos em uma série de aspectos nas nossas vidas.
Apegamos-nos a algo que não existe mais e lá jogamos em uma gaveta.
“Pode vir a servir para alguma coisa algum dia” diria o guardador de quinquilharias, ou eu, ou você mesmo sobre o cartão de ônibus de Budapeste usado em 1994.
Será que pode servir mesmo?
Arrumar uma gaveta no sentido literal da palavra leva apenas 5 minutos quando essa gaveta não é o seu passado em forma de poeira, lembranças, fotos, livros e capas de CDs vazias.
E aí aquele surto de limpeza inicial se torna uma viagem deliciosa – ou não – em seu próprio passado.
E é nessa hora que entra a tal da coragem.
A gaveta está ali há tanto tempo quieta em seu canto fazendo apenas o seu papel de guardiã.
Guardiã de sua história.
Cada envelope, cada pasta poderá te levar a um vendaval de recordações, um pout porri da sua vida – como o tal do filme que dizem que passa em nossa mente na véspera de nossa morte.
Uma carta da tia-avó mostrando todas as responsabilidades e descobertas que sua sobrinha terá por ter completado seus vinte anos, um lápis capenga de cabelos espetados cor de rosa que nunca vai para o lixo em suas faxinas por uma única razão.
Uma foto, um livro denunciando ter sido empacado ao estar marcado ainda na página 45.
E aí a gente entende que para andar para frente precisaremos sempre levar conosco alguns fragmentos das gavetas de nossas vidas por uma única razão:
As recordações de ontem fazem o ser humano que somos hoje e aquele papo de que “pode servir para alguma coisa algum dia” começa a fazer todo o sentido do mundo quando você entende que não é o passe velho do ônibus da Europa que irá te servir novamente (e que você irá jogar no lixo nesta faxina), mas sim a soma de tudo o que você aprendeu e se tornou em cada papelzinho empoeirado jogado naquela gaveta que está indo para o lixo.
Aposto que você nunca parou para pensar no sentido da famosa frase: Vamos levantar poeira!
😉