Mariana está de luto.
A tragédia afetou diversos distritos da cidade, mas a cidade em si está intacta.
As áreas atingidas são as áreas rurais, de pessoas simples que tinham em suas casas praticamente tudo para sua subsistência.
A maioria das casas possuía cachorros, galinhas, porcos, vacas, codornas, cavalos, mulas ou burros.
Os donos, grande parte, já estão hospedado em hotéis pagos pela Samarco.
Mas e os animais?
Muitos animais morreram. MUITOS. De fome, de frio, atolados na lama ou porque estavam presos.
E as pessoas tiveram que abandonar suas casas, ou melhor escombros e ir para os hotéis deixando seus animais por conta e sorte do destino.
Existem pessoas que em dado momento só tinham a roupa que vestiam.
Há ainda aqueles que mesmo com a casa destruída insistem em continuar nelas, mesmo sabendo que há risco de vida.
O trabalho para os sobreviventes está sendo feito, as pessoas estão sendo informadas dos riscos de permanecer em lugares de riscos. Mas os animais não tem esse discernimento.
Eles não fazem a mínima ideia de que aquela lama é uma tragédia e que seus donos sumiram e sabe-se lá se vão voltar.
Os cães aguardam fielmente nos escombros, protegem o terreno e a cada pessoa que chega de carro tem a esperança que seja o seu dono.
No abrigo escutei sobrevivente já avisar que tal cachorro é para a adoção, a dona havia morrido.
A Samarco alugou um galpão que virou um abrigo de animais, e esse abrigo é mantido com ajuda voluntária de veterinários, ongs e de todos que querem ajudar.
Quando fui entregar doações em alguns distritos contei fácil mais de 50 cachorros abandonados.
A logística do abrigo é resgatar mas quando isso não acontece é deixado ração, água e os animais são medicados lá mesmo.
Há muito trabalho.
MUITO.
São vários distritos e vários animais precisando de ajuda.
Esse é um trabalho de meses, se bobear anos.
Os moradores estão aparecendo para identificar seus animais, mas a maioria deles não pode levá-los embora pois estão em hotéis.
Os animais estão assustados, em choque, carentes e sem entender a situação.
O trabalho no abrigo é importantíssimo e não pode parar.
Nosso maior medo é que com o passar do tempo as pessoas esqueçam da tragédia, e Mariana se torne apenas uma lembrança.
Hoje teremos mais resgates e se Deus quiser as equipes voltarão com as caminhonetes cheias.
Naquele abrigo há muito trabalho, mas muito amor a ser distribuído por aqueles bichinhos.