Nunca duvide de um sexto sentido feminino. Enquanto tinha a estranha experiência de dividir meu Uber com um desconhecido comecei a escrever um texto sobre o que estava vivendo.
Enquanto escrevia o texto, um novo blind-parceiro-de-ratatá adentrou o Uber e terminei o que escrevia dizendo que usaria aquele silêncio constrangedor brincando que minha bolsa havia estourado.
No fundo no fundo, mesmo no alto das minhas 17 semanas de gravidez isso quase aconteceu.
Senta que lá vem história – e textão.
Veja bem, em situações com desconhecidos aliados à tecnologia da Internet em nossas mãos costumamos fazer o que quando não estamos em eventos sociais? Nos escondemos nas telas dos nossos smartphones.
E foi isso que todos nós, estranhos-passageiros, fizemos nesta viagem.
O primeiro blind-parceiro-de-ratata entrou não muito simpático no carro, cortando inclusive a “good vibe” de papo que eu estava tendo com o motorista.
O segundo entrou simpático, mas diante da plateia meio blasé ficou na dele.
E assim seguimos enfurnando as nossas cabeças em nossos smartphones e mundos virtuais.
Antes de continuar, eu já contei do problema que tenho quando encontro pessoas muito bonitas?
Pessoas muito bonitas me deixam extremamente sem graça. Sei lá, parece que fico meio desnorteada por ter tido a oportunidade de poder visualizar tais traços tão bem feitos, e senti que quando o segundo blind-parceiro-de-ratatá entrou, ele participava desse DREAM TEAM a qual tanto me acanho.
Por que mundo? Por que tamanha discrepância perante os indivíduos neste universo?
Sem graça, me enfiei no Whatsapp comentando com amigas que o UberPool poderia ser um ótimo Kinder Ovo para os solteiros e solteiras de plantão, o que convenhamos não era o meu caso, mas não custava repassar a tal da probabilidade.
O primeiro moço desceu, e foi a deixa para o Mc-Dreamy-do-ratatá puxar papo comigo e com o motorista. Ele brincou que o cara da frente havia comido muita picanha quando era bebê e crescido demais, fazendo com que suas pernas não coubessem direito no banco de trás. Concordei com o problema de altura, que também tenho, e todos nós rimos.
Infelizmente quando se conversa com outras pessoas é necessário olhar para as mesmas, o que me deixou bem constrangida, dado que o pacote de dados daquele ser humano era bem farto de beleza e simpatia.
Mas ok, né? Vamos combinar que mulheres grávidas estão no all-time-low do sex-appeal e que sentir-se minimamente bela não faz parte do mundo em que vivemos durante a gestação de uma pequena linda vida. Então na minha cabeça éramos um motorista na frente, uma pessoa assexuada cheia de espinhas e excesso de peso atrás e um na verdade Mc-Steamy não Mc-Dreamy ao lado, todos respirando o mesmo ar.
Então o que fazemos nessas horas? Conversamos oras. E assim embalamos em um papo. Curiosamente o cara já tinha morado no Rio e frequentado alguns lugares curiosos que eu também já havia frequentado, então entramos naquele papo-nostalgia-que-saudades-do-rio-de-janeiro.
Estava lá toda satisfeita de ter tido a oportunidade de ver uma obra de arte sem querer no meu dia e de ter relembrando de chopps no Beduíno ou no Bar do Biga ao lado do Rio Sul, quando Mc-Steamy mostra seu celular com uma tela aberta para mim, sem que o motorista percebesse.
Ué.
Minha cabeça ficou olhando, olhando, e meu cérebro calculando igual Hp-12C quando fica running, running, running, sabe? E quando realizei o que estava vendo, saiu o resultado em minha mente:
ERROR.
Onde estão as câmeras? Cadê o Sergio Mallandro? O Gugu? Em qual domingo essa pegadinha vai passar? Alguém saberia me dizer?
Meu blind-parceiro-de-ratatá-Mc-Steamy estava com um contato novinho em folha esperando que eu, Mc-Cookie-Marshmallow-Xburguer-Calabresa-com-Batata-Frita-e-Maionese colocasse meu número de telefone naquela espaço em branco.
Acho que nessa hora comecei a suar nas axilas, vulgo suvaco. Acho não, tenho certeza.
Instintivamente e instantaneamente respondi: Que isso, tá maluco?
Ri bem nervosa, bem, mas graças a Deus não sou daquelas que imita um porco quando ri. E desandei a falar o que estávamos conversando como se nenhuma tentativa de salvar contato tivesse acontecido.
Eu havia acabado de sair da obstetra e tinha certeza que ela não havia me dado nenhuma injeção para que eu tivesse alguma alucinação muito da louca.
E obviamente nem me lembrava a ultima vez que havia recebido uma cantada, quanto mais de um, bom, já deixei claro que o cara era bem gato.
Ainda tenho certeza que irei aparecer em algum programa tosco no próximo domingo. Aguardem.
O rapaz recolheu o celular e continuou conversando, como se nada tivesse acontecido, mas bateu seus dedos na tela do celular meio inquieto, deveria estar pensando que eu deveria ter sido a segunda mulher na vida dele que refutou tamanha proposta indecente. A primeira provavelmente foi alguma menina má do Jardim III.
Quando nervosa tenho uma característica básica de desandar a falar, e me desculpem os conservadores de plantão, mas não tinha como não ficar desconcertada.
PORRA.
Continuamos a conversar, mas acredito que não devo ter deixado o cara falar, já que minha defesa naquele momento era apenas soltar minha matraca giratória até que eu pudesse sumir daquela cena.
Quando cheguei ao meu destino, estava sentada ao lado em que passa carro, então Mc-Steamy se prontificou a sair do carro para que eu pudesse saltar em segurança.
Pensei cá com meus botões, Nicole não cai e no contact-eyes, não cai e no contact-eyes, siga em frente e não olhe para trás.
Na calçada, ele disse:
– Poxa, me dropou nessa, hein?
Nessa hora quinze ursos pandas filhotes e oitenta e sete filhotes de chinchilas dinamarquesas fecharam os olhos para sempre.
E como em um mantra “não-cai-no-contact-eye-não-cai-no-contact-eye” fui embora, sem deixar de escapar uma risada bem de Bruxa do 71 misturada com uma misto de pânico, nervoso e incredulidade.
– Hahahaha, tchau!
Foi o que Gisele Bundchen misturada com Grazi Massafera, atropelada e virada do avesso disse para uma peça de arte viva fora de sua consciência – lógico – nesta tarde, nesta São Paulo.
Bom, eu já bem disse para o senhor meu namorado que eu acho um absurdo mulher grávida andando por aí sem quiçá carregar um anel de compromisso tendo um relacionamento super sério há trocentos anos. Ele faz que não está nem aí, diz que já somos casados e que não tem necessidade desse tipo de coisa.
Então tá, nem vou contar que azamigatoda me crucificaram e disseram que eu deveria ter dado o meu telefone para pelo menos repassar para as solteiras, neam?
Continuemos assim.
Risadas maléficas da bruxa do 71.
Mas pera, só um momento… “Hahaha, tchau?” Sério que eu disse isso?