Suas noites nunca mais foram as mesmas.
O sono sempre tão complicado devido ao estresse do cotidiano vem como uma pedra em sua cabeça.
O desmaio é garantido, mas como você em breve precisará aprender a sobreviver dormindo em intervalos iguais ao que o Amyr Klink fez em sua viagem solitária em um caiaque para amamentar seu filho a cada duas/três horas – calma, isso somos nós grávidas, não o Amyr. Amyr precisava disso para não perder o controle do seu caiaque – sua bexiga já te treina para isso.
O desmaio é interrompido n vezes por noite para que você faça litros e litros de xixi sem ter tomado litros e litros de chopp nas horas anteriores.
Eu disse chopp?
Sua vida de zumbi já está no prézinho e ao invés de reclamar você equilibra a situação e pensa que tudo bem, já que você nunca dormiu tão pedra quanto nos dias de hoje, mesmo com n intervalos.
Mas eis que você desperta antes da hora. O dia já está claro, você entende que o despertar é mais um grito da sua bexiga e a esvazia com aquela satisfação única.
Volta pra cama e quica de um lado para o outro.
Droga. Acordei. Tá cedo. Poderia dormir mais. Não consigo.
Levanto.
Acho que estou enjoada.
Volto pra cama.
Nossa, tô muito enjoada.
Levanto.
Ai droga, teto preto.
Eu disse teto preto?
Retomo ao mundo.
Enjôo.
Merda!
Eu disse merda antes de dizer bom dia ao universo?
Merda!
Vou ter que tomar o remédio de enjôo. Só ele me salvará.
Remédio debaixo da língua, começa a dissolver.
Enjôo.
Enjôo.
Caceta preta! Não acredito. Esse remédio vai me fazer vomitar.
Salivo.
Salivo muito.
Nossa! Da onde saiu tanta saliva?
Gente, socorro! Esse remédio nunca bateu desse jeito.
Estômago virado.
Corro para o banheiro.
Sento no chão.
Apoio os braços na tampa da privada.
Faço todos os barulhos e suo tão frio quanto aquele porre que todo mundo já tomou um dia e torceu para que fosse esquecido nos livros da vida.
Não são nem sete da manhã e eu tô aqui.
Cuspo o resto do remédio de enjôo.
Penso em Alanis Morissete e em como ela não colocou na melhor letra do mundo “Ironic” que Ironia era enjoar e tomar um remédio de enjôo e enjoar mais ainda.
Bunda e alma estão no chão.
Tusso uma vida.
Nada acontece.
Não é possível, nem enjoando com o remédio de enjôo consigo vomitar, senhor?
E lembro de todos os porres que já tomei onde um pequeno vomitozinho iria me salvar de tantas camas girando e mau estares.
Não. Não estou fazendo apologia ao ato em si, mas sempre morri de inveja de ver minhas amigas se recuperando rapidamente depois de passarem mal integralmente.
E bom, se você nunca tomou O PORRE não vai entender do alívio de jogar todo o mau, que você pagou e caro para colocar para dentro, para fora.
Enfim, voltemos a maternidade.
Ali, naquela cena insólita, o marido é acordado com o barulho da bêbada não bêbada na privada.
Você está lá, sofrendo com seu enjôo gestacional, brava nas calçolas de não conseguir finalizar um enjôo com dignidade e aquela santa alma se materializa e fala:
– Meu amor, você não tem nada no estômago. Vamos voltar para cama, vamos?
E então, você que engoliu a pílula da sinceridade no alto do seu porre inexistente pensa:
MOLE PARA NÓS!
Olha como você tem razão! Eu tô aqui há mais de vinte minutos sentada agarrando essa privada só porque descompensei hormonalmente e achei que seria charmoso e sexy te encontrar aqui.
Sim! Esse show todo é só para te acordar de maneira super sensual e não porque sua filha tá fazendo uma rave aqui dentro, brincando de pular corda com o cordão umbilical com mix de brincar de ficar girando com um olho pregado em um pedaço de pau no chão, girando, girando, girando e depois rodando que nem um peão da casa própria descontrolado.
Ou touro mecânico.
Aliás eu já entendi qual é a dela. Sim. Sua filha. Lembrei do meu primeiro porre, onde bebi de tudo um pouco e não tinha ideia que aquilo tudo daria merda. É isso! Ela não sabe o que faz! Não tem noção que uma corda pulada no cordão umbilical causa revertério na mãe. Mas ela tem tanto ainda para aprender nesse mundão! Perdoe-a! Comigo ela tem passe livre de perdão.
Mas você tem razão meu amor não grávido. Não faz sentido algum eu estar aqui. Meu estômago está vazio, né? E eu estou atrapalhando o sono alheio só para causar, já que nem beber mais eu posso, então as chances de agarrar uma privada se tornaram nulas!
Calma! Eu não verbalizei isso, verbalizei?
Não, Nicole. Isso foi cuspido só na sua cabeça.
Bom, menos mal.
Retomo minha dignidade e rezo para que a parte do remédio dissolvida faça efeito logo, e agradeço a privada ser grudada no chão. Não seria legal o marido começar o dia com uma privada Lorenzetti na cabeça!
Então amor, eu te amo, mas existem algumas coisas que a grávida entende um cadinho mais que o pai. Enjoos, por exemplo.