QUANDO UMA MÃO SEM QUERER LAVA A OUTRA

Você dá até aquela rezadinha fora de hora, reflete, respira para colocar em ordem seu campo, digamos gravitacional, para você continuar girando junto com a Terra sem causar grandes abalos sísmico internos.

You have a bad hair day. Face it.

Pede um UberX, o moço está te aguardando e diz animado que é o seu primeiro dia e sua primeira corrida.

– Primeiros dias são sempre animados, já mudando minha frequência de energia para uma frequência de vida nova – para o mocinho.

Paramos em um sinal, uma moça tira foto de uma igreja.

Respiro fundo. Nunca tinha reparado naquela igreja.

(Bença, pai)

O carro prossegue, o moço oferece água, bala e pergunta meio tímido se a música incomoda, era um louvor.

Respiro de novo, não estou no mood de vetar um louvor assim caído do céu.

A música era bem agradável, se ele não tivesse comentado talvez eu nem tivesse percebido o teor religioso da canção.

Acho engraçado um louvor no meio do meu dia.

Aceito de alma e coração.

Ao chegar no destino, peço para ele aguardar pois só pegaria um pacote e retornaríamos ao mesmo local de origem.

Ele se embola, finaliza a corrida, eu sem internet –
meu plano mensal para variar estourou, ele se oferece para me levar de volta de graça, não aceito de modo algum.

Ele oferece compartilhar sua internet, eu aceito.

Não funciona.

Peço para ele aguardar um pouco enquanto adiciono mais internet no meu plano.

Procuro os 3 dígitos do cartão de crédito.

Ele insiste para me levar de graça.

Eu insisto que não.

Consigo chamar um Uber novamente, ele pega a corrida no aplicativo.

Dou algumas dicas de alteração de rota.

Ele me agradece imensamente.

Chegamos no destino final, desejo sucesso no seu novo trabalho, ele diz:

– Fica com Deus.

E eu mais do que nunca, respondo com toda sinceridade do mundo:

– Amém e.. Obrigada!

Bem paulistano, ele sorri e responde:

– Obrigado, eu.