Ela está de pé conversando com uma co-worker que senta na baia da frente.
As baias são errr… Baias, separadas por divisórias.
Ela está exatamente em frente a divisória que – err, divide – seu ambiente de trabalho com o de um co-worker ao lado.
Seria apenas um momento qualquer, discutindo questões corporativas se não fosse a presença de um tic-tac.
– Blá, blá, blá. (Crec, crec, crec). Blá, blá, blá (Crec, crec, crec).
Para quem ainda não captou a cena, ela fala e abre e fecha seu tic-tac ao mesmo tempo.
– Blá, blá, blá. (Crec, crec, pluuuuuu, ploft!)
– Ai cacete!
E faz uma cara de apavorada.
– Caraca Lu, você não sabe! Meu tic-tac acabou de voar!
– Tic-tac? Voar? Tá maluca, Nicole?
– Sim! E sabe o que é pior? A pasta do João está aberta!! E não me pergunte como mas meu tic-tac caiu dentro dela.
– Ué é só pegar, sugeriu alguém que pegou o barco andando.
– Tá doido! Não se mete mão em bolsa de mulher, logo não se mete a mão em pasta de homem! Direitos iguais!
– Ai gente e agora? Que que eu faço?!
– Nicole, você não estava indo almoçar?
– Tava! Mas cadê ele? Não posso simplesmente sair para almoçar assim! Quer apostar quanto que vou esquecer disso quando voltar?
– Mas qual é o problema, criatura?
– Qual é o problema? O João é casado! Imagina ele chegando em casa e a esposa achando um tic-tac dentro da pasta dele? Eu expulsava de casa sem chance de retratação! E pior?! Imagina qual seria a resposta dele? “Meu amor, eu não tenho a mínima idéia sobre o que você está falando!”. Aí seria tamancada na fuça! E aí de repente veríamos ele cabisbaixo para lá e para cá. Meses depois descobriríamos que ele havia se separado sem nem saber a razão!
– Já sei!!
Ela pega um post-it, escreve um pedido de resgate e deixa o tic tac que formava a dupla como demonstrativo do que deveria ser procurado.
– Prontinho!
Ao voltar, encontra o post-it na sua mesa, com seu tic-tac resgatado já fazendo cia para o outro que havia ficado órfão, logo em seguida chega seu vizinho, dono da pasta aberta:
– Nicole, quando vi esse post-it já logo fiquei imaginando que dera um problemão com algum cliente, mas aí li e não entendi muito bem não mas ta aí oh.
– João, errr… Você não vai acreditar…
Post-Scriptum: Tic-tac gente! De prender o cabelo!