N/a Crônicas
Na minha casa não existe jornal impresso. Imagino que essa seja a realidade da maioria das pessoas que nasceram depois de 1980 e já não compartilham mais o seio, ou melhor, o teto familiar.
Confesso que sinto saudades do cataploft que escutei durante minha vida toda no capacho da porta da sala, quando o galo teimava a cantar em horários inadequados em algum quintal de algum interior desse Brasil.
No escritório, diversas edições do Valor Econômico acordavam em cima dos teclados dos caciques, mas nunca foi a mesma coisa. Escritório para índio nunca foi lugar para ler jornal, mesmo que esse jornal lhe trouxesse informações sobre o mercado financeiro. Lugar de índio sempre foi na frente do computador, de preferência com milhares de planilhas abertas de um lado e o Outlook do outro. Uh-uh-uh-uh (era para ser o grito de guerra deles, ou de nós).
Sinto falta da bagunça de um jornal já lido por um familiar, de puxar o caderno preferido e de dar uma sonhada nos classificados do Globo pra você, 534-4323!
Mas nem por isso nossa geração é ignorante. O acesso à informação acontece a todo instante.
O velho ritual de desbravar um jornal não lido foi trocado por abrir o iPad e apenas dar um enter.
Cansada dessa super facilidade a noticias inúteis assinei a Folha de São Paulo digital. Não tem coisa que mais me irrita do que querer ler algo e ser barrada no baile porque já acessei demais o site no mês corrente.
Oba!
Como antigamente, mas não tão antigamente, fiz todo o cadastro e não fui liberada de imediato. Precisei aguardar dois dias para que eu virasse oficialmente assinante digital do jornal.
Virei. E travo uma guerra que assemelho a guerra que minha avó trava quando tira a TV do canal que liga a NET e agenda uma visita de um representante apenas para ele apertar o botão AV MODE.
No site diz: acessar a versão impressa. E lá vou eu, feliz virar páginas em pdf bem vintage. Cadê que o site deixa? Cadê? Eu não quero ler o jornal como se fosse um portal de notícias! Eu não sei assim!Não me satisfaz! Gosto de ver a diagramação! A ordem das coisas! Ver as manchetes principais e descobri-las jornal a dentro!
Poxa gente! Poxa Folha! Dez a zero site x Nicole já de manhã é fogo!
Nhé.
