A PASSAGEM

A PASSAGEM

Enquanto lavava a louça Dona Carmelita se aproximou, disse que agora com quase oitenta e três anos se sente velha, mas só agora – fez questão de frisar.

– Esse negócio de morte é muito triste. Não gosto do ritual não. Enterro, choradeira.

(…)

– Antigamente as pessoas morriam mais cedo, hoje temos durado quase cem anos. Mas sabe o que eu penso sobre isso? Tinha vontade de armar uma festa, ali na altura das pedras do Arpoador e chamar todos os velhinhos. Uma celebração muito feliz e divertida.

(…)

– As pessoas encaram a morte como algo dolorido, mas se você não está sofrendo em cima de uma cama acho um pecado encarar dessa forma. É uma passagem! Uma nova etapa, e novas etapas devem sim ser comemoradas.

(…)

– Sabe como terminaria essa festa? Todo os velhinhos dariam as mãos e pulariam no mar. Você sabe como eu amo o mar, né? E assim partiríamos para uma nova etapa da nossa jornada, felizes contemplando aquele pôr do sol.

– Vó, você está propondo um suicídio coletivo?

– Estou? Só acho que deveríamos encarar a morte de outra forma. Quer coisa melhor do que terminar uma etapa se divertindo e feliz?

– É Vó, verdade.

Sobre Nicole

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Bia Derenzi disse:

Pérolas da vó Carmellita!