Passamos nossa infância inteira acreditando na sabedoria das crianças mais velhas, mas como éramos crianças não entendíamos ainda que sabedoria e crianças mais velhas não se convergiam em boa coisa.
Lembro-me perfeitamente quando a irmã mais velha (lógico) da Joana me contou que no ano 2000, a terra seria invadida por extraterrestres. Não sei por que cargas d’água tinha certeza absoluta que os ovinhos dos extraterrestres (cuma?!?) seriam deixados no vaso da planta que minha avó tinha na sala. O ano deveria ser 1993.
O filme “Gremlins” já passava em Sessões da Tarde e era um terror. Depois de assistir ao filme, passei muitos anos da minha vida sem deixar minha mão cair para o lado de fora da cama. A certeza de que os monstrinhos poderiam estar lá embaixo era clara e evidente. O raciocínio que não, afinal se há um monstro embaixo da cama, por que ele só iria aproveitar-se da vitima quando uma mão caísse para fora adormecida?
E quando em um episodio de Chaves, os personagens entraram na casa da Bruxa do 71? Ainda hoje me lembro da cena e da tensão que fiquei ao testemunhar a entrada na casa de uma bruxa.
Eu também tinha medo do homem do saco, mesmo não tendo conhecido ninguém que havia sido levado por ele. Na época não entendia muito sobre estatísticas e probabilidades. Será que foi por isso que entrei em uma faculdade que até Econometria estudei?
Comprava a revista UFO com frequência, e vez ou outra olhava para o céu com a certeza que iria testemunhar um OVNI descendo pela vizinhança e levando alguém para fazer algum tipo de experimento. Ainda bem que naquela época não existia Google.
Não podemos esquecer jamais da Xuxa com sua faca no peito. Quantas bonecas não foram estraçalhadas por motivo tão banal? A minha Xuxa era aquela boneca dura, média, mas mesmo assim, depois daquele maldito boato ela morou solitária embaixo da escada de casa. Só era vista quando precisávamos ir até a despensa, e olha lá.
Fofão nunca tive coo-lhão para ter. Tinha que ser muito macho para dormir em um mesmo cômodo que Fofão. Admirava as amigas que lutavam contra a sorte e a morte toda noite.
Certa vez, muito pequena e ainda morando em SP, vi um capacete voador entrando no meu quarto. A porta estava aberta e durante muitos anos sofri com essa lembrança. O capacete, nada mais era que uma bexiga de aniversario, que por alguma razão voou para dentro do meu quarto enquanto eu dormia. O problema é que eu deveria estar naquele sono pesado, fabricando lote de remela e por uma questão de timing perfeito abri meus olhos no exato momento que o tal do capacete adentrava meu quarto.
Mas nada, nada me aterrorizava mais do que o gnomo do banheiro! Não sei como nunca tive uma cistite de tanto segurar xixi porque o tal do gnomo estava presente.
Os gnomos faziam parte da minha rotina, mas eu não comia cogumelos alucinógenos, juro.
Minha avó sempre tinha um gnominho de chapéu colorido com uma maçã em casa. As amigas dela também. Não sei se era moda ou se elas eram parças da Bruxa do 71, mas rolava um afeto e um cuidado com os tais do gnominhos.
O problema é que minha imaginação sempre foi muito fértil. O banheiro do segundo andar da casa tinha uma janela grande com uma tela para mosquitos. Como a janela dava para os fundos, e nos fundos da casa passava uma rua “de serviços”, tudo era muito deserto e silencioso para aqueles lados à noite.
O que pegava é que tal silêncio era iluminado por um poste, e a sombra do poste refletia nesta janela do banheiro lá de casa, só que refletia de uma forma geométrica aterrorizante.
A sombra daquele maldito poste replicava perfeitamente um chapéu de gnomo grande! Bem no final da janela, ou seja, na minha percepção havia sempre um gnomo escondido ali, porém o gnomo era atrapalhado e nunca percebia que seu chapéu estava à vista.
Meus xixis noturnos eram liquidados apenas se existisse presença adulta acordada no andar, e as portas sempre abertas. Fazer xixi no segundo andar e sozinha era algo inimaginável.
O gnomo chegava para nos espiar assim que a noite caia, every single day. Durante o dia conseguia fazer tudo em paz. Existiam guardas noturnos, por que não gnomos?
Nunca contei para ninguém da espionagem secreta, pois tinha medo de retaliações já que minha avó era brother dos caras.
Até o dia em que uma luz se acendeu na minha mente criativa e vi tudo enquadrado, poste, luz e sombra.
Olha…não sei você, mas em mambucaba presenciei várias aparições OVINIs inclusive uma perseguição de um policial a um disco voador…juro que vi isso…eles até quebraram as cascas de vagem em frente minha casa…hahahahaha…confesso que eles me amedrontam até hoje…
hahaha páááára!
Só uma observação, a faca no peito era do Fofao
boa observacao!! hahaha é a idade Jane, desculpa!!
Era? Rsss, mas a Xuxa também tinha algo nao tinha??
Muito bom teu texto, me fez lembrar de minha infância, meu grande pavor à noite eram as roupas que ficavam penduradas em um cabideiro e se transformavam em fantasmas terríveis, que o assoalho estalando a noite, eram eles caminhando pela casa..
No banheiro infelizmente meus pensamentos eram como os de Raul, tinha vergonha de fazer algumas coisas tendo a companhia de “Jesus” a frase “Deus tá vendo tudo me deixou uma criança constrangida e reprimida.
Eu lembro de ter medo de cabides tambem!! hahaha nós quando crianças temos cada uma né?! :))
Oi Jane! Que bom que gostou! Confesso que tambem tinha medo de roupas penduradas, acho que até hoje ainda me assusto se estou em um quarto diferente sabe? Sei lá de hotel e aí você pendura algo.
E pensar que Deus está vendo tudo deve ter livrado de bons “aprontamentos”!
Ah, ha! Gnomos, OVNIS, Xuxa, Fofão, tudo bem. Mas homem do saco é demais! Ô santa imaginação fértil ds crianças!