PEDRA NO CAMINHO

PEDRA NO CAMINHO

Hoje eu deveria escrever.

Deveria. Fiz de tudo exceto escrever.

Já folheei livros sobre foco na livraria perto de casa.

Já vi Grey’s Anatomy, enquanto controlava meus batimentos cardíacos para não enfartar em cima de uma esteira na academia.

Já lavei louça.

Já entrei quinhentas vezes na área de serviço para checar se um pombo trouxe sabão em pó para que eu volte a lavar as roupas que se acumulam.

Mas não existe nada mais presente na minha vida do que o prédio que está nascendo ao lado do meu.

Meus dias são divididos por horas, que são divididos em:

Os caminhões estão entrando no terreno.

Os caminhões estão jogando coisas de sua caçamba.

Um grande treco com um peso marreta incessantemente algo, toc-toc,toc.

Britadeiras. Nada é mais presente na minha vida nesses últimos meses do que a porra da britadeira, furadeira ou sei lá como se chama o diabo do treco que fura há semanas uma porra de uma pedra, que por questões geológicas, nasceu e habita o terreno vizinho há milênios.

Uma pedra no meu sapato, no meu ouvido, na minha alma, no meu sono and na minha concentração.

Todos os dias eles passam o expediente inteiro furando o diabo da pedra. Ela inclusive, já está com demarcações visíveis. E vez ou outra um trator (tá eu sei que não chama trator) vai lá e cata um pedaço, joga ao lado e aí outro amiguinho pega sua arminha de brinquedo e brinca de furar mais a pedrinha separada de suas irmãs.

Comprei no desespero protetores auriculares, vários, de todos os tipos e formatos.

Diariamente estupro meu ouvido com tocos roxos de silicone, mas logo peço para eles saírem de mim. Esse tipo de inserção não me tráz conforto, apesar de abafar um pouco meus amiguinhos. Mas cada dia que passa preciso enfiar mais e mais e já já esse treco sai pelo meu nariz, e isso não será bacana.

Quando estava na Índia, escutei em um momento de meditação a frase: Enjoy the silence.

Estou começando a achar que nego tava de sacanagem com a minha cara e mais alguns dias assim estarei fazendo a Narcisa e atirando ovos pela janela.

E se a turma dos lados da Índia olhar feio vou avisar que aqui é assim que funciona a busca do equilibro emocional de um ser humano por aqui.

Enquanto isso o tempo passa, mas a inspiração oh.

Sobre Nicole

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