A DEDICAÇÃO DO OUTRO

A DEDICAÇÃO DO OUTRO

Hoje indo para o trabalho passei por uma senhorinha – bem senhorinha – de uniforme com aparência humilde carregando um carrinho de feira.

O que me fez refletir sobre essas pessoas que dedicam sua vida inteira para cuidar de uma família que não a sua, e muitas vezes sendo obrigadas a deixar de lado sua própria família.

Lembrei da Dilcéia que foi minha babá e até hoje trabalha como passadeira na casa da minha tia. Essa daí cuidou da família inteira, limpou fralda, fez ninar, arrumou a casa, fez comida, estava lá nos tempos de alegria e de tristeza.

A Dil mora lá aonde o vento faz a curva, tem sua família e é analfabeta.

É patrimônio familiar dos Derenzi.

Tem uma vida dura, já tem idade para olhar para o teto e ver a vida passar, mas está lá, firme e forte ganhando seu dinheiro suado e sempre me recebendo com um abraço  tão gostoso mas tão gostoso que não dá vontade de largar.

Lembrei também de uma cena que vi no interior alguns meses atrás: Uma senhorinha muito pequenininha e muito velhinha, saindo de um carro sendo levada no colo.

Ao ver a cena, por se tratar de uma cidade pequena e por ser curiosa, logo perguntei o que estava acontecendo ali.

Naquele carro estava uma família inteira – voltando do enterro de um familiar – e aquela senhorinha pequena sendo levada nos braços era a pessoa que havia cuidado e  criado todos os filhos, netos e bisnetos.

Aquela cena para mim foi de um simbolismo único. Foi lindo de se ver (com todo o respeito ao momento de perda daquela família).

Aquela cena mostrava simplesmente que a escolha de dedicação àquela família hoje tinha toda a reciprocidade do mundo. E agora havia chegado a hora de retribuir tamanha dedicação e amor por aquela que, não tinha o mesmo sangue, mas sem dúvida nenhuma já era da família.

Sobre Nicole

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