N/a Crônicas
Quando o coração não aperta, mas coça significa o que?
Sabe aquela agonia que dá quando estamos há muito tempo escrevendo no teclado e os dedos mindinhos estão sem uso? Aquela espécie de gastura?
Sim! Gastura é a palavra perfeita.
Sinto gastura no coração.
(Oiiiiiiin, como sou fofa)
Mão coçando é dinheiro indo embora, não é? Orelha quente é alguém falando de você. Estômago roncando é fome – que também sinto, porque depois de tantos excessos, o carboidrato virou delicia-non-grata no jantar.
E essa gastura no peito? Seria excesso de uso do coração? Ou seria a falta de uso?
Meu dedo mindinho esquerdo está com inveja e dando gastura também. Mas deve ser porque escrevo do celular. Já já o direito começa a dar seu showzinho também.
Ao fundo, uma serenata na rua.
Não. Nada de serenata. É a TV do casal que mora na pracinha aqui da frente.
A TV rapidamente é ofuscada por latidos. Deve ser o Pingo, o cão mais bonito e mais resmungão dessa familia, que mora numa casa, muito engraçada, que não tinha teto, não tinha nada.
Sinto gastura da situação deles também.
Não seria incrível se em todas as esquinas existissem poços iguais aqueles poços de desenhos infantis, com uma cordinha e um balde, pronto para despacharmos todas as nossas gasturas em um rodar de manivela? Poderia até tocar dança da manivela para quebrar o clima pesado do momento. E se debruçássemos sobre esses poços e soltássemos um sonoro grito libertador, que reverberasse por todo o magma do nosso universo particular e mudasse a vibração da tal gastura?
Ou se ainda fôssemos capaz de darmos belas estrelas, para que em sua rotação todos os sentimentos fossem reequilibrados e repousassem lentamente em seus devidos lugares como os anéis do AquaPlay?
Já pensou se nessas horas pudéssemos sentar em cima de nosso planeta particular e observarmos como somos sortudos e abençoados bem, a lá Pequeno Príncipe, recitando que o essencial é invisível dos olhos?
É, hora dessa gastura ir embora.
Virou de lado, adormeceu e no dia seguinte sentiu como se tivesse de fato jogado todas as suas gasturas no fundo do poço e se o texto tivesse fundo musical, ele terminaria com o Bono Vox gritando: It’s a beautiful daaaaay.
