A JUSTIÇA E O CABELO

A JUSTIÇA E O CABELO

A cena não poderia ser mais raivosa, um juizado de pequenas causas depois de longa e tenebrosa batalha contra uma operadora de celular.

É a terceira vez que Joaquina adentra aquele prédio em uma tarde fria de São Paulo.

O sangue nos olhos já fervem, uma vez que Joaks precisou rever passo a passo toda a raiva que passou e sentiu ao longo desses últimos dois anos graças a ótima conduta da operadora de celular para com seus clientes.

Desmarcou todos os seus compromissos do dia, inclusive a ida em seu terapeuta quase budista – Sábia decisão, só que não.

Hoje ela teria seu julgamento, ou assim achava.

Chegou como de costume meia hora antes, e já foi interpelada por uma advogada na sala de espera.

A advogada do diabo, ou melhor, da operadora.

Foi pega tão vendida, tão vendida, que nem realizou que ali, faltando alguns minutos para a audiência, a advogada proporia um acordo out-of-records e ofereceria benefícios que nada tinham a ver com seu caso.

– Gostaríamos de oferecer tanto, tirar seu nome negativado e cancelar o seu contrato junto a operadora.

Ela riu, de nervoso e de incredulidade e apenas disse não.

– Esta mulher sequer encostou em meu processo, não é possível. Meu nome nunca ficou sujo porque essa viada de operadora debitava automaticamente todo mês minha conta! E dãããr esse contrato já está cancelado há seculos! Que pachorra! Resmungou Joaquina mentalmente.

– Que ódeeeeeeo! Eu e minha mania de encontrar a resposta perfeita depois do momento perfeito. Resmungou mentalmente de novo.

Joaks resolveu ir ao banheiro, já que sua bexiga acharcada por um neném em formação era abraçada fortemente, e no meio do caminho topou com a companheira advogada junto com um belo rapaz de terno.

– A requisitante não aceitou a proposta e zzzzzz. Ela ouviu de longe.

Joaks fez xixi espumando de ódio e voltou para a sala de espera, lotada de cadeiras umas grudadas nas outras enfileiradas.

Enquanto se direcionava para a cadeira que estava sentada, repara que o ragazzo amigo da advogada do diabo estava sentado em seu lugar, tal muy belo ragazzo se moveu olhando para ela e Joaks apenas leva o maior tropeção do mundo.

A sala pára.

Joaks fica vermelha e entende que não pode mais se passar despercebida depois dos belos quilos ganhos durante sua gestação.

Chamam Joaks e o tal do ragazzo. Se Joaks queria chamar a atenção, havia conseguido.

Joaks senta na sala de conciliação e entende porque havia tropeçado, seu novo advogado do diabo, sabe-se lá substituído pela moça do approach na sala de espera, é um belo, sorridente e jovem advogado.

Toda vez que Joaks fica nervosa, ela fica estabanada, e assim ela estava em sua primeira audiência da vida sem ao menos ter direito a um advogado. Junte isso ao senso gravitacional alterado pela barriga e a carinha angelical de alguém que obviamente está jogando totalmente contra a sua pessoa.

A sessão foi tal qual ridícula, uma vez que Joaks não havia concordado com o acordo antes mesmo de adentrar a sala oficial, então o advogado do diabo fez algumas perguntas, Joaks respondeu que era um absurdo advogados da empresa sequer terem lido a solicitação do cliente, ele perguntou qual seria a contra proposta e pediu o telefone da Joaks.

Calma rapaziada! Joaks teve seu telefone solicitado uma vez que a Operadora poderia vir a entrar em contato com a Joaks para tentar finalizar esse lenga-la-lenga judiciário. Não. Não era um momento UberPoolII..

Enquanto a advogada do Juizado preenchia algumas informações acabamos entrando em um momento out-of-records. A mocinha que parecia ser a mediadora dava sorrisinhos meigos ao diabo.

– É, boa artimanha colocarem alguém bonito na parada. Ó a mocinha aí… Toda mole mole… Joaks pensou.

Joaks estava brava, e o diabo que não vestia Prada – bom Joaks não sabe, ela não é boa para isso – puxava assunto para tentar quebrar o ódio que Joaks sentia no coração.

– Viu sobre a Oi?

– Aham.

– Desculpa perguntar, mas quantos meses de gravidez?

– Seis meses.

– Moro com a minha irmã, que tá gravida de oito meses, pesa né?

– Aham.

E Joaks continuava tentando orbitar o ódio em seu universo, e pensava: Ele não vai me quebrar, ele não vai me quebrar. E em uma fração de segundos passou a conversar por telepatia com seu cérebro:

– Não ouse ordenar minha mão a mexer o cabelo, não ouse ordenar minha mão a mexer o cabelo.

E Joaks respondia indiferente á leveza do momento Pessoa Física do advogado do diabo, ou melhor, da operadora.

Indiferente e imóvel.

PAREMOS A HISTÓRIA AQUI.

Vamos falar do ato automático de passarmos a mão no cabelo diante uma situação de charming.

Não, passar a mão no cabelo não significa TE QUIERO, ME TAQUE EN LA PAREDE AHORA.

Não, passar a mão no cabelo é apenas um ato instintivo que fazemos ao nos deparar com algo que nos pareça interessante.

É AUTOMÁTICO.

Sim, eu inclusive zoo, zouo? Do verbo ZOAR (?) minha contraparte por que já o peguei mexendo no cabelo quando contrapartes do sexo opostos nutridas de certa beleza chegavam perto.

Ele nega até a morte, mas vamos combinar, somos 7 bilhões de pessoas neste planeta. Não sou a única charming girl interessante neste mundo para ele, não é? Até porque sobre as belas raparigas ele não é obrigado a acordar ao lado todo dia naquela beleza de cena cotidiana, logo elas só ficam com a parte boa da coisa, desfilar-se belas.

Sim, por que esse disclaimer? Porque mesmo eu escrevendo esse texto em nome de Joaks, não em meu nome, sempre tem alguém que pergunta, mas nossa, ele não fica com ciumes?

CATZO! Eu estou aqui contando que mexer o cabelo não é uma infração e sim apenas um ato automático! DU-VI-DO que você nunca deu uma mexidinha despretensiosa sem querer nas madeixas, e nem por isso você pensou em infidelidade suja e profana.

A discussão aqui é em como nosso cérebro sem querer as vezes nos envia ordens irracionais. Onde já se viu se Joaks iria ceder as ordens do seu cérebro em tal momento de ódio profundo? Mesmo Joaks sempre ficando meio sem graça perto de pessoas bonitas, se manteve imóvel, irredutível, deixando o papelão da manteiga derretida para a loira ao lado.

Então ao entrar em seu Uber, com um motorista que não fez seu cérebro enviar qualquer tipo de ordem sem sentido, mexeu seus cabelos livremente longe dos olhos da justiça divina, ops, advogado divino, ops, advogado do diabo. Hm, Keanu Reeves, how you doing? Qua, qua, qua (porque kkkk não fica tão legal quanto qua, qua, qua.).

E para terminar o texto, desconstruo Vinicius de Moraes: “Os bonitos que me desculpem mas no Pequenas Causas, feiura às vezes é fundamental.”
Obsimpac (Observação importante para caralho, já dizia um professor meu dos tempos de CEL):
Turminha amada, a arte da escrita, mesmo quando quase autoral nos dá asas a enfeitar informações e até mesmo criar novas situações. Lembro que minha primeira decepção e descoberta quanto a isso foi quando descobri que um texto maravilhoso do Antônio Prata na verdade foi inventado e não testemunhado. Essa é a magia da escrita, então sim vou continuar escrevendo esses causos engraçados, por que sou um ser humaninho (hohoho) que entende que nesse mundo há bilhões de pessoas, dentre esses bilhões muita gente interessante e bonita, e nem por isso desrespeito minha contraparte linda e amada que sempre entendeu meu lado meio sem noção para alguns.
Beijo da gorda. <3
By the way, o tal do texto do Antônio Prata que me acordou para a verdade literária é esse aqui: “Recordação”, de nada!

Sobre Nicole

Comente aqui!