A MULHER DO(NO) BANCO

A MULHER DO(NO) BANCO

Hoje postei uma foto no Instagram, a chuva daquela manha me remetia certa melancolia. Vi uma mulher sentada em um banco de praça com sacolas e um guarda-chuva, à esquerda um gari se protegia embaixo de uma marquise, o brinquedo a la “gaiola” estava vazio.

Automaticamente lembrei de Alceu: “A solidão é fera / a solidão devora / É amiga das horas / É prima-irmã do tempo / E faz nossos relógios caminharem lentos / Causando um descompasso / No meu coração.”

Segui para o meu trabalho.

Na hora do almoço a chuva já havia dissipado, mas aquela mulher naquele banco continuava, como se apenas uma borracha do Paintbrush tivesse apagado da cena o seu guarda-chuva.

Ela estava lá. Sentada.

Praticamente estática.

Parecia continuar esperando.

Mais tarde a vi novamente, dessa vez de pé, ainda entre suas sacolas, no mesmo lugar.

Impossível ser indiferente.

Como passar por alguém que claramente esta de alguma forma com dor?

O que aconteceu na vida daquela pessoa para ela estar lá com suas sacolas organizadas cuidadosamente?

Enquanto isso a poucos passos umas meninas fazem um editorial de moda com um iphone.

Ela continua lá de pé.

O moço da CET Rio faz seu trabalho.

A vida acontece ao seu redor, a vida de todos menos a dela.

A vida dela claramente parou.

Me questiono a razão dela estar, hoje, ali.

A espera.

Da cura de algo que nunca saberei o que.

Nunca saberei porque não teria nem coragem de perguntar.

A realidade de uma dor, não importa qual seja é bem dura.

E nós, seres humanos, somos egoístas.

“Prefiro não saber.”

“Não posso salvar o mundo.”

“Se eu virar o rosto um pouquinho para o lado sai do meu campo de visão.”

Mas aquela mulher somado a dezenas de notícias tristes nos grandes portais de jornalismo hoje de certa forma me fizeram refletir.

Refletir sobre clichês, sobre o próximo, sobre gratidão, sobre estar por perto sempre que alguém que você ame precisar.

A correria do dia a dia não nos permite tempo para refletir muito, mas nesse exato momento enquanto vivemos nossas vidinhas, enquanto escrevo esse texto no meu iPhone modernoso e caro, existem muitas pessoas precisando apenas de alguém.

Seja esse alguém para alguém.

Isso serve para todos.

E para mim também.

Sobre Nicole

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