N/a Crônicas
Preciso fazer as unhas, pensei.
Hmm, preguiça de ir no salão XYZ que é mais distante, deixa eu catar um salão no JK Iguatemi, aqui pertinho..
– Oi, boa tarde! Por favor, quanto custa o pé e a mão de vocês?
Eu sabia que não custaria quarenta reais o combo e estava até dispostazinha a elevar o pricing pela praticidade…
– Cento e oito reais, senhora.
– Não.. Você não deve ter entendido direito…
E lembrei de como sou incompreendida foneticamente quando peço um sprite zero, agora não me compreendiam nem em palavras cujo o s não existe!
– Eu queria saber o preço da manicure e pedicura.
– Isso mesmo senhora, cento e oito reais.
– Ok! Obrigada. E desliguei meu celular.
Agora, alguém neste universo me conta se o alicate é da Channel? Como devem chamar os esmaltes deste salão? Porque “Mandioquinha” da Colorama não deve rolar né? A manicure tem Phd? Algum tipo de CFA das unhas? A cada dez idas à manicure lá eu ganho uma passagem para NY? Parte da renda vai para o Criança Esperança? Cento e oito reais e ainda tem que dar uma gorjetinha? Defina gorjetinha?
Bom, obviamente preferi andar com o esmalte lascado escondendo dos seguranças do shopping. Vai que sou apontada como culpada? Ou quem sabe responsável pelos rolezinhos?
Resolvi então almoçar na praça de alimentação elegante, bonita e nem tão sincera.
Avistei um Viena e meu coração bairrista me fez sentir mais perto de casa – apesar de ter a impressão que a rede Viena é paulista, mas deu para entender, vai.
– Vai ser aqui mesmo ao avistar as beringelas alegres (sim esse é o nome) que já tanto comi nos áureos tempos de início de carreira.
Sentei nas cadeiras, provavelmente desenhadas por designer renomadíssimos que deixam as cadeiras da minha sala de jantar da Oppa no chinelo, e enquanto aproveitava minha deliciosa happy meal pela bagatela de dezoito reais sou interrompida educadamente por um rapaz vizinho de mesa. Ele era bem apessoado AND não tinha a unha lascada como eu, fiquei tensa.
– Oi, desde que você sentou aqui eu to cismado. Alguém já te falou que você é a cara da blablabla?
E me mostrou seu iPhone com uma prima minha desconhecida por mim e famosa por aí.
– Ela faz o “How I met your mother”.
Corrigindo: praça elegante, bonita AND com pessoas sinceras.
E eu fiquei meio sem reação tentando identificar se eu achava a mulher bonita ou não, né? Porque não tem coisa pior para uma mulher de esmalte lascado do que ser comparada com alguém abaixo de suas expectativas em uma praça gourmet premium!
E aí percebi que não sou a única pessoa observadora do universo e que hoje o feitiço virou contra o feiticeiro!
Conclusão: Não dá para andar de esmalte feio, você pode estar sendo observada. Mas o alicate Channel a gente deixa para a próxima. Aliás para nunca!
