ALÉM DO UMBIGO

ALÉM DO UMBIGO

Em São Paulo ninguém tem tempo a perder, o paulistano já perde muito tempo no trânsito e como tempo é dinheiro, vivem(os) correndo.

Correndo deixamos de lado atitudes simples da vida, como o fato de passear e de observar, tarefas essas que só acontecem quando dá tempo. Na verdade, não quando dá tempo e sim quando você é obrigado a parar.

Ontem de manhã, o condomínio que trabalho resolveu fazer um treinamento de incêndio. Algo em torno de sei lá, duas mil pessoas foram obrigadas a parar seus afazeres, descer seus respectivos lances de escada, dar uma volta no quarteirão e só retornar quando todos os prédios do condomínio estivessem evacuados.

Fomos obrigados por fatores externos a parar.

Em meio a peregrinação em volta da JK, observei junto com uma amiga um buldogue daqueles pequenos com seu dog walker (que mané passeador, aqui é dog walker). O cão estava de bota ortopédica canina em uma de suas patas dianteiras. Demos risada do cachorrinho, esquecendo inclusive o saco que era aquele treinamento inesperado. Aquele cãozinho tinha acabado de dar uma aliviada em nosso dia.

Hoje pela manhã, o transito parou (oh) e pude reparar como as pessoas com cães se tornam simpáticas e mais abertas. Foi só um cão e seu dono passarem para que outro cão com seu dono abrisse(m) um sorriso. Provavelmente, eles não se conheciam, mas naquele momento tive a certeza que os animais unem pessoas, como se os donos de cães fossem uma irmandade, como se fosse a cumplicidade ganha de imediato quando seu time de futebol marca um gol e o desconhecido ao lado também vibra.

Já a noite, lembramos do episódio do buldogue com a bota e começamos a viajar falando dessa incrível adocicada que os animais fazem às pessoas.

Por que que nós não agíamos da mesma maneira enquanto “sozinhos” nesse mundo, sem nenhum animalzinho fofo em cena? Por que não podíamos ser cordiais para com os outros assim… De graça?

Enquanto conversávamos topamos com um gato lindo, lindo e automaticamente paramos e começamos a tentar uma aproximação.

Para a nossa surpresa, a aproximação foi muito bem correspondida e em questão de segundos a gatinha se rendeu as coçadas de queixo e barriga que oferecíamos de graça no meio de uma rua meio escura.

Espantada com tamanha “dadice” da gatinha cheguei até a comentar como era maldade uma gatinha tão dócil ser de rua, afinal nem todos se aproximariam com boas intenções.

Enquanto estávamos “parando” nossas vidas para fazer um cafuné em um bicho aleatório, um cara falou conosco de longe:

– Olha, nem adianta querer levá-la embora, ela é a nossa mascote! Ela só sai daqui quando uma senhorinha a leva no veterinário e olhe lá – falou o cara orgulhoso com o sucesso da sua cria.

Jogamos um papo fora ali mesmo no meio da rua, três desconhecidos inesperadamente. Gentilezas bobas que só aconteceram porque nos demos tempo para parar, observar e nos doar um pouquinho para um bichano qualquer.

Aquela gatinha parecia ter sido plotada ali, justamente para provar a nossa teoria de como ficamos mais abertos quando existe um animal na jogada.

Sei não, mas parece que os animais, seres teoricamente menos inteligente que nós, tem muito, muito mesmo a nos ensinar…

Começando pelas coisas mais simples da vida, como se doar, como uma troca de sorriso no começo do dia ou uma coçada na barriga para fechar o dia com chave de ouro.

Tudo uma questão de parar de olhar para o próprio umbigo.

Simples assim.

Sobre Nicole

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