Dentro de um quadrado, a idade que eu iria me casar.
À esquerda, direita sei lá, o nome de três meninos, que seriam os candidatos a trocar aliança comigo.
Do outro lado três tipos de carro que eu teria e embaixo três cidades que moraria.
Como ainda não era suficiente, acima da idade do meu desencalhe, siglas que significavam muito pobre, pobre, normal, rica e muito rica.
Minha sorte, aliás minha vida adulta, dependia apenas do número que definiria como meu ano matrimonial. Tendo este número poderia eliminar as opções até restar apenas uma de cada tipo.
Simples assim.
É, mas a vida não é bem assim. Não casei aos 23, não tenho um Escort, não virei dona de bar (Na verdade sempre quis ser caixa de bar, culpa de uma caixa registradora de brinquedo que ganhei certa vez e assim fechava as contas do Nicole’s Bar imaginário) e muito menos casei com o mocinho a qual almejava. E sobre minha vida financeira sempre dava uma oscilada devido o intervalo de 21 a 23 anos em cada partida.
Realizei que no próximo carnaval brindarei 31 primaveras, meu namorado diz que dado o mundo moderno, eu que terei que propose him, o Escort saiu de linha e eu só escrevi isso porque ontem enquanto estávamos no supermercado travamos um duelo em silêncio em que percebi que só estávamos tendo aquele super problema porque ele não estava na minha folha de papel, ou seja, zicando meus planos de vida que fiz no auge dos meus oito anos.
O duelo? Ele queria comprar Colgate, e eu queria comprar a Oral-B como pasta de dente.
Passei a minha vida inteira usando Colgate (com exceção quando algum pai de amiga trouxe dos EUA uma Crest, que eu adorava comer. Sim. Comer.), e quando conheci o meliante ele me apresentou a porra da Oral-B azulzinha sabor Crest.
Vivíamos felizes enquanto eu era apenas uma visita e usava sua Oral-B sazonalmente.
Hoje virei residente, dividimos as contas, o teto menos o banheiro (Salve salve apês modernos), a Colgate custa R$2,49 e a Oral-B R$3,99. Ele sempre venceu esta batalha no supermercado, mas ontem coloquei o pau na mesa, ou melhor no carrinho, e quase gritei:
– Você não estava na lista e por isso eu vou comprar essa pasta sim! Essa pasta também não estava na minha lista quando eu te conheci. Gentalha, gentalha, pfuuu.
Mas ao invés disso eu rosnei mentalmente. Ele segurando a embalagem de Colgate na mão, eu segurando a de Oral-B. Nos encarávamos como em uma pesagem de UFC. Ele piscou o olho, bufou e falou: Tá bom.
E aí eu concluí que nem sempre o destino das nossas vidas é definido em uma folha de papel onde almeja-se um Escort. Sorte minha! E deixa eu comprar minha Oral-B cacete!
Já li duas vezes. Adorei!!!
Su, lembre-se de mim toda vez que ver uma ORAL-B!!! :))))