Eu tenho uma teoria que todo ser humano precisa de um analista.
Não somos tão evoluídos assim a ponto de não precisarmos de uma análise “out of the box”. Se fossemos, não estaríamos saracoteando pelos lados terrenos de cá, concordam?
Agora pense no coitado do profissional que em uma loucura juvenil – sim, querer cuidar da cabeça de vários outros só me parece uma maluquice e nada mais, resolveu estudar a cabeça alheia!
O cara passa o dia inteiro ouvindo blablabla de todo tipo de maluco por aí. Além de ouvir o blablabla, ele precisa saber exatamente quem é quem, incluindo nomes, na história de vida desta maluco! Ou melhor deste analisando.
Gente, é na história da vida inteira do indivíduo! Indivíduo não, porque quem analisa não analisa um, analisa vários, no coletivo.
Além disso, ele precisa analisar todo o contexto do caso e voilá! Fazer o analisando evoluir através de suas próprias conclusões depois de anos de divã!
Jesus amado, que trabalhinho de coRRnooooo!
O que sempre me levou a crer que psicólogo, psicoterapeuta e psiquiatra não são deste mundo.
Não é possível! Ficar escutando mi-mi-mi alheio e não querer esganar um maluco desses por aí?
Não poder jogar na cara do analisando, em um ataque de tpm seu, tudo o que você acha dando dois tapas na cara do tipo: Acorda minha filha!! Esse homem não preeeeeesta?
Eu sempre desconfiei disso tudo.
Um belo dia, depois de alguns anos com a diva master da psicanalise, sentadinha em seu divã tive um estalo!
Quem me analisa não é a minha terapeuta! E sim seu cão!
Bingo!
Minha terapeuta é apenas uma intermediária da análise de o-cão, o maluco-mor da história (Sua identidade será preservada por questões de confidencialidade).
Assim como o Chico Xavier era para seus livros apenas um intermediário, minha psicanalista empresta seu corpo para que o-cão possa propagar seu conhecimento.
O-cão sempre está presente nas sessões, as vezes mais animado, mas sempre estritamente profissional, nunca encostou em mim ou demonstrou qualquer tipo de afeto, no máximo uma abanada de rabo.
Minha psicanalista tem mais apego a mim do que o-cão.
O-cão na maioria das vezes está mudo, e em dias mais pesados sequer olha em meus olhos.
Percebi certa vez que estava realmente mal de cabeça quando o-cão passou a sessão inteira de bunda para mim, saí da analise arrasada! Até ele estava desacreditado em minha pessoa.
Hoje, minha psicanalista precisou sair da sala por um momento, me deixando pela primeira vez em anos a sós com o-cão.
Respirei fundo e o chamei para um tête-a-tête.
Depois de umas duas tentativas abri meu coração:
– É você né o-cão? A diva máxima da psicanálise não pode ser tão bizarramente boa e sã assim ao mesmo tempo, né?
E o-cão em uma troca de olhar, abriu seu canal cósmico comigo e usando a mesma tática de telepatia que usa com a sua intermediária para transmitir sua opinião, me confessou:
– O que você acha, querida? Olha para a minha cara e olha para a cara dela? Quem que você acha que tem cara de maluco? Eu ou ela?
É, eu sabia que os analistas não eram coisa desse planeta!