DALUA

Eu, de fora daquela cidade, estranhei.

A festa era na estrada e me perguntei como ele havia chegado até ali. Logo descobri que seu “nome” era Dalua e que Dalua era especial e por ser especial fora adotado com carinho por aquela cidade.

Dalua estava sempre em todos os eventos, com seus óculos e seu sorriso com poucos dentes.

Com a inocência de um rapaz especial, brincou comigo com um sorriso mais bonito do que modelo em comercial da Colgate como se fossemos velhos conhecidos.

Pronto, Dalua acabara de quebrar o gelo com aquela estranha que olhara com certa dúvida para ele.

Um ano depois, retorno para aquela cidade para mais um casamento. Dalua já havia sido esquecido na minha memória.

Do lado de fora da igreja, vejo um rapaz que passa por nós e ri das latas amarradas no carro dos noivos.

Pronto, era a senha que eu precisava para lembrar uma das razões que Barreiro havia me conquistado.

Lá estava o mocinho “maluquinho”, batendo cartão em mais um casamento.

Dalua ficou a cerimônia toda do lado de fora da igreja, encostado e um pouco tímido, parecia não querer incomodar.

Já havia trocado meu olhar com certo preconceito do primeiro momento no ano anterior por um olhar com ternura ao reconhecê-lo.

Não precisava de mais.

Mas aí os noivos saíram da igreja e pararam para posar para a foto padrão na porta.

Fotógrafos a postos, convidados dando a distância necessária pula Dalua lá no meio.

Dalua beija a noiva na bochecha, abraça o noivo e sai feliz da vida.

Minutos depois lá estava novamente Dalua em mais uma festa.

Comemorava a felicidade dos noivos, com direito a foto com a noiva!

E eu comemorava a bela lição que aquelas pessoas daquela pequena cidade demonstravam. De coração aberto para pessoas especiais que por alguma razão que foge do nosso entendimento vivem naquele mundo, o da Lua.

E quer coisa mais linda do que a lua?

Uma pena que na maioria das vezes só conseguimos observar a real beleza dela lá no interior, onde o céu e nossos corações não estão tão poluídos.