N/a Crônicas
A caminho de um famoso restaurante, vejo uma menina encostada em um poste cheia de panfletos. Seu job description é bem claro: Distribui-los para os motoristas enquanto o sinal está fechado.
O sinal está verde para os carros e ela acaricia um cão. Assim que me aproximo escuto um choro, o choro vem do cão que não pertence a menina, que acaba perdendo o sinal vermelho enquanto faz carinho no cão perdido.
Um pouco mais a frente, um menino timidamente se aproxima e quase engolindo o próprio som de suas palavras diz:
– Moça, quer comprar um pano de prato?
Chego no famoso restaurante, famílias, casais, amigos lotam aquele ambiente. No meio de tantas confraternizações percebo certa solidão entre um casal.
Mal se falam, o celular dele parece bem mais interessante do que a mulher que em algum momento da vida ele se apaixonara.
Entre uma cebola e outra observo que ela não tira os olhos dele, ou melhor, do quadro de fotos de praias paradisíacas atrás dele. Ela está longe, provavelmente naquele momento sonhando com um final de semana feliz nas Maldivas.
Um animado parabéns ao fundo, um pulo nas Maldivas, um cachorro perdido, panfletos e uma criança trabalhando.
No meio de tantas coisas acontecendo ao redor me aproximo de uma mesa cheia de brinquedos.
Logo o dono da mesa aparece: Um palhaço com P maiúsculo. Trocamos poucas frases que me fizeram sorrir por dentro.
Ironicamente estava tendo um “bad hair day” e a primeira pessoa que me arrancara um sorriso tinha sido ele, um palhaço contratado do restaurante.
Volto meu olhar ao casal distante, e percebo que mesmo sem trocarem muitas palavras acabam optando pelo mesmo prato. Pagaram a conta e se dirigiram para a saída, nesse caminho o cara silenciosamente passa seu braço na cintura de sua namorada quebrando de vez a distância que lá existia.
Naquele instante penso no palhaço, na criança do pano, no cão perdido e torço para que uma hora ou outra as coisas acabem se ajeitando dentro e principalmente fora daquele restaurante.
