ELA NÃO É PARA CASAR

ELA NÃO É PARA CASAR

A cada casamento que participo fica mais claro que não tenho a mínima estrutura emocional para ser aquela mocinha no papel principal de branco – a que entra depois de todo mundo na igreja, sabe?

A mínima. Até aqueles casamentos no qual não tenho grandes vínculos emocionais com os noivos são sempre uma catástrofe.

Não adianta, acho a coisa mais linda do mundo, minha veia cafona grita dizendo que sou uma das últimas românticas.

Acho linda a consagração, a família reunida, o blá blá blá do padre, os coques das madrinhas, a marcha nupcial, tudo.

No último, ao entrar na igreja reparei em uma senhorinha muito senhorinha, cabelo branco quase cinza, sentada no último banco da igreja, sozinha, toda arrumada porém sozinha.

A velhinha foi o start-up para minhas emoções aflorarem. Conjecturei milhões de motivos e criei milhões de histórias fantásticas para aquela senhorinha estar lá sozinha, inclusive pensei em sentar ao lado dela – pra fazer uma companhia né?

O noivo entra, os padrinhos, daminhas e de repente a senhorinha solitária do último banco!

– Ahhhhhh, a velhinha! Que linda!!! – Havia pensando em tudo, menos que ela pudesse ser uma daminha-senior!

A senhorinha era avó de um dos noivos e marchava a passos lentíssimos com muita dificuldade mas muito concentrada carregando as alianças em uma almofada.

Beleza! Já dizia Amy Winehouse “tears dry on their own” – acho que consigo!

Aí a noiva me faz o favor de entrar com a mãe!!!

Pronto, cheguei no nível quase soluço.

Nocaute de Nikita.

Floor.

Só me recordo do namorado falando sério:

– Nicky, pára de chorar! Que mania essa sua! A noiva tá vindo toda forte, se segurando, dona de si, imagina se ela olha pra você e vê você aí quase morrendo de tanto chorar? Aí você descompensa a noiva e aí eu quero ver.

(glubt)

Enfim, uma vergonha – como sempre.

E aí comecei a entender a expressão “Essa é pra casar” e “Essa não é pra casar”.

Sério!

A expressão acabou sendo deturpada ao longo do tempo pela sociedade e acabou com um tom bem pejorativo.

Mas tenho a nítida impressão que a expressão surgiu justamente devido ao comportamento lacrimal das mocinhas de plantão nas igrejas e não pela maneira que elas se comportam pregando o piriguetismo ou não.

E pensando assim tenho que assumir…

Não, eu não sou pra casar!

Sobre Nicole

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