Ele tomava todo dia seu café em uma simpática birosquinha daquele centro da cidade.
Todo santo dia.
Com o passar do tempo, passou de mais um transeunte para freguês.
Era o freguês da Natália, uma simpática funcionária que fazia as vezes de barista daquele estabelecimento.
Natália era charmosa, adorava dizer que ele só vinha pelo biscoitinho delicadamente posto em seu pires em forma de cortesia.
Ele negava.
Cada um com seu charme cordial das relações criadas pela escolha de uma rotina.
O café sempre lá, e já que era sempre lá, ela devolvia a fidelidade em formato de biscoitinho.
Biscoitinho simples que quebrava o amargo daquela xícara de café e muitas vezes daquele dia de trabalho.
Um dia ele decidiu que precisava mudar e mudou de emprego.
Cada despedida de sua rotina diária foi duramente cumprida, com abraços apertados, olhos brilhando e um certo nó no peito.
A rotina é uma droga que nos apegamos.
Dizer adeus nunca foi, nunca é e nunca será fácil.
Mas era necessário se despedir.
Precisou voltar ao Centro, já não mais vinculado àquela rotina, mas parou para tomar seu café.
Era cedo e Natália estranhou:
– Ué, a essa hora aqui? E ainda está a paisana?
– Pois é, respondeu meio sem graça, estou de férias.
Quando ouvi a história logo questionei:
– Por que não disse a verdade? Por que não se despediu?
– Não me despedi porque um dia ainda volto lá para tomar um café.
Sair da sua zona de conforto e de sua rotina é sempre difícil, dizer adeus para tudo que se construiu, muito mais.
E assim ele deu um passo à frente em sua vida, muitos quilômetros de distância daquela birosquinha no centro do Rio de Janeiro, mas como todo o ser humano é provido de raízes que cria, ele preferiu deixar o café quentinho nos pensamentos e a certeza que Natalia estará sempre lá, ocupada com o vai-e-vem daquela gente sempre com pressa e quem sabe garantir dois biscoitinhos de cortesia quando voltar.
Por que ele sabe que ali, algum dia em sua vida, voltará.
E então Natália irá sem querer perceber que sentia falta daquele freguês simpático e aí o sorriso não será mais de uma despedida amarga e sim de um doce reencontro.