Se bronzear é uma arte que o carioca sabe fazer muito bem.
Até o carioca mais cor de parede de escritório tem a chance, aos finais de semana, de mostrar que aquela cor é tão last week.
O problema é que cariocas cor de parede de escritório acham a genética deles igual àquela morena que só retoca o brilho no sol e acham que com apenas algumas horas de raios uv-a, uv-b, uv-o cacete irão deixa-los morenos jambo.
Use filtro solar sussurrava Pedro Bial ao fundo, enquanto ela preparava seu kit de praia:
Canga, pente, livro, protetor para o rosto 60, protetor para o corpo em spray 30 – para ficar daquele jeito – e logicamente aquela água termal que você pagou 40 pilas e só está usando porque você pagou 40 pilas.
Já garantindo a satisfação dos dermas de plantão, ela passa já seus produtos antes mesmo de sair de casa e sai toda prosa depois de muitos dias sem fazer sol na cidade maravilhosa.
Chega na praia, posiciona sua cadeira em direção ao sol e ao longo das próximas 4 horas vai virando sua cadeira seguindo o grande poderoso e retocando sempre muito sensualmente seus produtos nela mesma.
Protetor facial, mais um pouquinho.
Passa o spray de protetor para corpo como uma atriz hollywoodana:
– Opa, não posso esquecer da canela! Hmm, lá embaixo tá com areia melhor não melecar.
Ombros, barriga, pernas tudo devidamente sprayado e aquela sensação de que ficará mais bronzeada que Gabriela.
Uma águinha termal no rosto para refrescar.
Ela spraya em seu rosto e balança o rosto para lá e para cá como Gisele Bundchen em seus anúncios da Loreal “porque eu mereço”.
– Meeeeerda meu olho!!! O protetor tá diluindo e caindo no meu olhooo!
Já na quarta hora de banho de sol, ela começa a sentir um leve desconforto e a satisfatória mudança de cor opaca para aquele moreno jambo já lhe é suficiente.
Opa, wait!
– Que caralha de marca é esta na minha canela?
É, ela acha de bom tom se retirar da praia, afinal já estava completamente bronzeada e o sol já a estava fazendo ver as coisas distorcidas e não seria justo com o restante da população continuar se pondo tão bela.
Antes disso, olha com pena um gringo indo embora no tom sashimi de salmão.
– Afff, não sabe, não sabe, vai ter que aprender… Cantarola cheia de maldade.
No banho em casa, percebe que seu corpo havia mudado.
Seu colo, além das pintinhas de muitos anos de praia sem proteção, agora davam lugar a um cenário de esborrifadas brancas com fundo rosa, salmão sashimi para ser mais específica.
– Bom, o protetor ao menos funciona… Eu só deveria errr… Ter espalhado? Mas ele não era de spray? Hm…
Suas canelas estavam brancas, e a região onde antes havia areia para sua surpresa agora era salmão.
Sua canela parecia um sundae de creme com calda de morango ao fundo.
Seu tronco mais parecia aquela raposa preta com uma tira branca nos olhos, nunca havia pensando que um tomara que caia pudesse fazer tamanho efeito.
Por toda a parte onde começava o corpo e terminava o bikini a cor salmão ganhava um bold, um pink bold.
Indo para a parte de baixo, ela poderia jurar que teria passado horas com um esparadrapo colado no corpo igual tchuchuca linda com marquinha.
Sim, ela ficou daquele jeito, bem como um yakisoba se sente na chapa e só tem a agradecer que seu namorado está longe pois não saberia lidar com a síncope de risos que ele teria ao ver seu bronzeado catastrófico caso ela resolvesse dar uma sensualizada de toalha.
Agora, ela caminha em direção a qualquer hotel e assim que avistar um camarão gringo irá abrir sua cartolina com os seguintes dizeres:
– You’ve got a friend (TAYLOR, James)