Era uma sexta feira à noite e decidimos jantar em uma famosa Trattoria Italiana na Rua Bela Cintra em São Paulo.
A Trattoria estava repleta de amigos e famílias reunidas.
Enquanto nos sentamos, reparo em um senhor bem senhor que entrou conosco.
Ele senta muito próximo à minha mesa, exatamente no meu ângulo de visão.
Ele está sozinho.
Vai até a mesa de antepastos e volta com um prato cheio.
Reparo nele.
Será que ele é sozinho?
Será que ele tem família?
Ele usa aliança.
Mas minha avó também usa e é viúva, penso.
Será que ele tem o hábito de sair sozinho e é habitué da casa?
Ele não parece se importar em ser a única mesa solitária.
Pede uma garrafa de cerveja e ao se servir deixa transbordar a espuma no copo.
Ri sozinho.
Não, ele não ri sozinho.
Naquele momento compactuamos de uma cena engraçada.
Ri por dentro.
Ele riu para fora.
Naquela momento ele não estava só.
Eu compartilhava com ele um pequeno ato desastroso.
Nos tornamos cúmplices da espuma da cerveja.
O prato principal chega, ele agora pede uma taça de vinho.
Antes de dar a primeira garfada, une as mãos e agradece a refeição.
Mais uma vez me torno cúmplice daquele senhorzinho.
Ele não está só.
Como toda boa trattoria, músicos circulam pelas mesas cantarolando tarantelas.
E nosso querido senhor os chama e pede uma música.
Os músicos, já senhores, tocam violino e violão — ou algo parecido.
E o senhor canta junto.
Que momento!
Os garçons dão toda atenção àquele senhor que mais tarde descubro não serhabitué do local.
Ele pergunta onde pode pagar a conta, se levanta e fica feliz ao saber que a conta vem até ele.
Fiquei imaginando qual seria a história daquele senhor.
Quais suas dores ou suas alegrias.
E fiquei feliz em fazer companhia para aquele senhorzinho, mesmo a uma mesa de distância e perceber que mesmo sozinho, ele não estava só.