MARINHEIROS DE PRIMEIRA VIAGEM

MARINHEIROS DE PRIMEIRA VIAGEM

Já perdi as contas em quantas vezes levei o Francisco correndo ao veterinário por problemas aparentemente simples, que qualquer tutor de cão experiente conseguiria se safar sem precisar de consulta médica e desta vez não foi muito diferente.

Já era madrugada quando percebemos que algo não ia bem com nosso cão. Ele que normalmente dorme à noite inteira estava disperso, andava de um lado para outro e olhava à esmo. Só sua insônia já fez com que nós, dois marmanjos, acendêssemos o abajur para verificar o que estava acontecendo.

Respiração estranha. Olhar de judiação. Barulhos vindo de Francisco.

Nosso peludo estava mal. Muito mal.

Dúvida corroendo a alma. Deveríamos levá-lo na emergência? Era necessário?

Passamos a noite inteira acordados, verificando cada reação e de sobreaviso para levá-lo a qualquer momento para o hospital milionário.

Caímos no sono quando o primeiro avião da ponte aérea decolou de Congonhas. Uma hora depois o despertador tocou.

Francisco continuava muito mal. A culpa de ter testemunhado a possível causa do jururu do meu cão e não ter feito nada de relevante na hora me consumiu por inteiro.

Lembrei que no dia anterior, vi Francisco fazendo movimentos estranhos com a língua, e com isso vasculhei a casa inteira até encontrar um bicho voador cascudo quase morto no chão.

Chico enfiara aquela coisa em sua boca e por alguma razão cuspiu imediatamente. Travaram uma batalha que na minha cabeça havia sido mortal apenas para o bicho. O inseto teve seu golpe de misericórdia dado com um pé de havaianas e um cabo de vassoura como fatality. Até aquele momento, havia morrido Neves, ou melhor, o inseto cascudo.

Joguei o corpo pela janela.

Na manhã seguinte, sem saber o que fazer com tanto jururismo, ofereci o café da manhã preferido do meu cão. Precisava saber da gravidade do seu caso e oferecer um pedaço de pão com requeijão seria a resposta que precisava para denominar a gravidade do assunto.

Chico cheirou, colocou na boca, cuspiu e chorou.

CHO-ROU.

Meu Deus. Meu coração estraçalhou.

– Amor, é sério. Francisco chorou com o pão com requeijão. Precisamos fazer algo IMEDIATAMENTE. Levamos direto ao hospital? Lá eles fazem todos os exames imediatamente. Vai que ele precisa?

Nisso abrimos sua boca e BINGO! Descobrimos que havia um machucado. Sua língua estava inchada e ele babava.

– Aí meu Deus!!!

Liguei correndo para o consultório da veterinária. Caso ela não tivesse disponibilidade partiríamos para o PetCare.

Saí em busca do corpo do assassino na área externa do prédio. O encontrei e guardei cuidadosamente em um saco de cocô para cães.

Fomos ao encontro da nossa veterinária – Sim. Quem tem cão chama veterinária de sua mesmo. E não tá nem aí com as piadas bobas de quinta série que estão embutidas na informação.

Contei todo o caso, apresentei o suspeito do crime. Coração acelerado, passei todos os sintomas para ela e então Chico começou a ser examinado.

– Então Nicole, de fato o inseto deu uma ferruadinha nele. E então Chico teve uma reação alérgica tardia LEVE, por isso a língua inchada e o excesso de saliva. Nada grave.

– Jura, doutora?

– Agora… O problema principal do seu cachorro… Que está deixando ele jururu desse jeito e que te trouxe aqui é outro… Está uma escola de samba dentro dele!

– Aí meu Deus, Dra. Fernanda, o que ele tem?

– Gases. MUITOS GASES.

Pense em uma cara de bunda.

– Vou prescrever um remédio para desinchar esse machucado, mas o que vai fazê-lo melhorar mesmo é BUSCOPAN.

– Mas doutora, ele não come nada… Como vou conseguir fazê-lo tomar o remédio?

– Podemos aplicar uma injeção nele.

– Por favor.

E de cachorro jururu à beira da morte, em questão de segundos, Francisco já era outro. Como se tivesse injetado alguma ÍNA em sua veia, o Buscopan injetável o levou à um pico de euforia sem precedentes.

Agradeci imensamente à veterinária e a equipe do Pet e pedi para fecharem minha conta, já que não tinha cheque e precisava tirar $ para pagá-los.

– Blablabla reais.

Liguei para o Tomas, contei que havia acabado de sair do Pet e que estava tudo bem com o Chico. Que era para ele não se preocupar, que havíamos gasto alguns bons Temers em uma consulta veterinária na Zona Sul de SP + aplicação de injeção apenas porque nosso cão estava lotado….

…de PUM.

Sim, nossa noite havia sido passada em claro, suspendi tudo que eu precisava fazer no meu dia, Tomas chegou atrasado no trabalho apenas por que nosso cachorro estava repleto de pum.

Um PUM de OURO, diga-se de passagem.

P.S.: Só quero ver quando a neném nascer.

P.S.2: E devido aos “problemas de saúde”, Francisco que passaria o final de semana em casa enquanto viajaríamos, conseguiu graças à sogra e avó um chalé no hotel que iríamos, onde era permitido cães. Para isso uma reserva sem cães foi trocada para o quarto, para que Rei Francisco desfrutasse de sua recuperação respirando ar puro.

Sobre Nicole

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