Neta única reinava soberana a respeito de minhas próprias vontades e de alguma forma consegui convencer Dona Carmelita que batata frita era bacana, e que batata frita não iria me faltar.
Para fazer um agrado, as vezes passava a beterraba em cima do arroz para mancha-lo e com muita pompa afirmava já estar comendo minha cota de legumes do mês.
Arroz pintado de beterraba era melhor do que nada.
Com muito custo aprendi a comer maçã, mas como avós são mães mais liberais e legais aprendi a comer maçã cortadinha em cubos salpicada por açúcar.
Caraca! Tive um clique! Acabei de realizar que até hoje como maçã, mas que como com muito mais prazer (muito muito muito mais) se cortá-la com uma faca de serra em pedaços. Senhor amado! Acabei de realizar que podemos trazer traumas de infância mas também mimos transformados em fase adulta, no sugar – menos mal.
Bom, para se ter ideia da gravidade do assunto, em uma virada de ano bem recente coloquei nas minhas promessas de ano novo comer banana e gostar dela.
Sempre tive problemas com bananas (hm, legal você fez um trocadilho bobo que mostrou sua idade mental bem parecida com a minha). Achava a textura da banana estranha. Molenga. Sei lá.
Evolui, cresci e passei amar uma banana. Tudo que puder hoje em dia tasco uma banana. Tenho a impressão de estar correndo contra todas as bananas perdidas, ho-ho-ho.
Mas por aí dá para perceber que nunca tive muita intimidade com o mundo das frutas. De uns quatro anos para cá que tenho aberto meu coração para essas maravilhas não industrializadas de Deus.
Dias de hoje.
O namorado abre a geladeira e sugiro que está na hora de cortar o abacaxi.
– Sério? Tô com preguiça…
– Vamos! Eu te faço cia.
E lá foi ele, tábua de corte, faquinha de serra descascar o abacaxi.
Fiquei olhando intrigada, cumprindo a promessa da companhia enquanto ele trabalhava.
– Nossa, mas é complicado descascar um abacaxi, hein? É cheio de coisinha.
– É Nicky, descascar abacaxi é chato.
Suspirei espantada. Arregaleis os olhos….
– Descascar abacaxi….
– Ah não, Nicky!
Ri como uma criança boba. Ri da situação ridícula e sorri por ser boba o suficiente diante de um mundo tão cruel cheio de abacaxis para descascar.