O CHAPOLIN É UMA FARSA! MAS O JOÃO…

O CHAPOLIN É UMA FARSA! MAS O JOÃO…

Hoje eu xinguei minha ta-ta-ta-ta-ta-ta-ra amiga que foi para as ruas queimar sutiã em prol dos direitos iguais das mulheres.

Hoje me senti mulherzinha, me senti sexo frágil, hoje quis chamar pelo meu pai.

E foi hoje que descobri que o preço que se paga por sutiãs queimados é não ter ganho um pinto no meio das pernas depois de tamanha revolução.

Não que eu queria tê-lo, deve ser estranhíssimo possuir um componente que balança para lá e para cá quando livre.

Deve ser estranhíssimo possuir algo que precisa deitar de lado quando acolhido em cuecas de algodão.

Mas hoje eu queria ter tido bolas só por meia horinha. Duas delas, enormes. Queria ter aquela voz grossa que assusta e impõe respeito. Hoje eu queria ter barba e arrotar com orgulho, só por meia horinha.

Hoje eu furei a porra do pneu no meio da Rodovia Castelo Branco às sete e meia da matina!!

Estava tudo muito bem, tudo muito bom. Som na caixa pensando na vida, pensando que o pedágio aumentou mais de quinze por cento enquanto meu salário, ah pobre coitado…

– Barulho estranho… Será que é da música? Hm…. Não…

Um carro emparelha e faz sinal de negativo.

– Não Nicole, isso não está acontecendo… Seu pneu não furou… (Plo-ploft, plo-ploft).

– Putaaaaaa que pariu!!!

Pisca-alerta, seta, direita, direita, não acredito, ai meu Deus, socorro, encosta, encosta, acostamento, pára o carro, ai senhor! E agora? Carros, carros, carros, motos, motos, motos.

E de repente minha vida começa a funcionar em outra velocidade.

Estou parada e o mundo está correndo.

Bom, parado está o carro, eu estou tendo é uma síncope nervosa de tanto tremer.

Treme, treme, treme, procura o celular do namorado nos last calls como se estivesse fazendo uma chamada para o Chapolin Colorado.

Liga, não completa. Liga, não completa. Ai senhor! Eu tô sozinha! Cadê o telefone do seguro que ficava aqui? Cadê????

Sou curta e grossa no Whatsapp: “Furei o pneu.”

Putz. Não. Não. Vou andar mais um pouco. Puxa o freio de mão e anda no acostamento.

Cadê o Chapolin, meu Deus! Sim Nicole Derenzi você está só! No meio da Castelo Branco! Respira fundo. Res-pi-ra.

Pensa!

Béé – tela azul de erro. Eu não sei o que fazer!

Treme, treme. Respira fundo. Calma. Fica calma. Tá tudo sob controle.

Controle é uma pinóóia! Acho melhor você dar uma olhada no estrago. Ih, é mermo. Até agora não saí do carro.

Puta que pariuuuu! Isso não é um pneu furado, isso é pneu destruído em filme de ação do Bruce Willis! O pedágio está lá atras, mas é como se fosse uma miragem em meio a um deserto. Um telefone escrito SOS repousa próximo.

Quer saber, vou entrar nesse carro é agora!! Foda-se a roda, vamo fio. Você aguenta. Vamo.

Para onde eu tô indo, meu Deus? Cara não sei, mas parada aqui olhando o tempo passar que nao vai ser. Eu vou matar o Tomaaaaaas! Cadê ele quando mais se precisa de um homem senhor!! Calma, respira. Manda um whatsapp para Camilla, avisa que vai atrasar. Sim. Ok. Cara, preciso falar com algum homem. Homem em SP que eu possa ligar 7:30 da manhã tendo uma crise nervosa.. Homem em SP que eu possa ligar as 7:30 da manhã… Tomas! Bééé! Bééé!

Cara. É você e você Nicole. A primeira entrada de Osasco está ali a frente. É para lá que eu vou. Sair dessa Castelo Branco!

Ploft, ploft. Eu andando a 20 km no acostamento.

Ploft, ploft. Ploft.

Ihhhh que que esse motoboy parou aí na frente e tá me encarando no meio do nada? Boa coisa não é! Já sei!! Sorria!! Você está na Barra!

E como em uma cena de filme no meio de uma estrada em um deserto, vou passando pelo motoboy com devil eye, eu e minha roda quadrada. Abro um super sorriso de que tá tudo muito bom, tá tudo muito bem… Faço o sinal de negativo, ajeito o saco que não tenho, coço-os. Finjo que tô de boassa ali, que tudo está sob o maior controle do universo e me jogo novamente na via.

Plo-ploft. Plo-ploft.

Ufa, as vias arteriais são mais lentas, obrigada auto escola. Oi, seu caminhão, sou loira e meu pneu, bom, você já viu, deixa eu me enfiar no meio aí, tenha piedade de mim.

Civilização, carros na calçada, é para lá que eu vou! Salto do carro e vou entrando em uma espécie de garagem.

– Moço, moço, eu tava passeando por aqui… Mentira! Foi assim..

– Moço, bom dia! Vocês trocam o pneu?

– Não.

– Hm. Você acha que eu chego naquele posto lá do outro lado? Errr… Com aquele pneu daquele jeito?

– De jeito algum.

Nesse momento tentava me passar pela mulher mais madura do mundo, mais centrada e que estava sossegadona curtindo um rolezinho sabe lá Deus onde. Certa de mim. Dona do meu próprio nariz. Pagadora de contas. Pagadora de impostos.

– Você tava indo pra onde?

– Pro trabalho..

– Mas você rodou bastante com esse pneu furado hein… Ele até derreteu…

– Eu? Magina! Tô até agora tentando entender porque furou, nem em buraco eu cai…!

– Fica tranquila, vou te ajudar. Minha esposa roda também São Paulo de cabo a rabo sozinha e já aconteceu o mesmo com ela e a ajudaram..

– Poxa, obrigada. Posso ajudar?

– Você tem tudo?

– Er. Tudo ? Tudo? Hm tudo. Tudo. Acho que sim.

Abro o porta mala e tiro oitocentas sacolas.

Ele tira uns trecos de dentro do step, coisas de homem, sabe? Eu ajudo ajeitando o step no carro e sujo minha mão por completo de graxa. Discretamente abro correndo minha bolsa e me besunto de álcool em gel fazendo um lamaceiro nojento. Droga, não funcionou…

O telefone toca, é o namorado histérico. Onde você está? Que que aconteceu? Por que você não me atende? Como está o pneu?

– Agora estou muito bem obrigada. Não preciso de sua ajuda. Ligo quando der.

Tú tú tú.

Desligo triunfante, dispensando qualquer tipo de ajuda tardia.

– Ele estava preocupado com a roda né?

– Moço, era matar ou morrer. A roda ou eu! Como você chama?

– João.

– Tá pronto. Esse pneu ta bem melhor do que o que você destruiu, pode ir.

– João, aceita por favor?

– De jeito nenhum.

Coloco os cinquenta únicos reais que tinha na carteira no bolso com a certeza que nessa hora não era só a minha pessoa que respirava aliviada e sim João que conseguiu passar adiante uma gentileza feita outrora para sua esposa.

E ao invés de eu terminar meu dia esquartejada cheguei ao trabalho dez para as nove. Simmmmm, não conseguia nem imaginar os próximos capítulos da minha vida simmmmmm! Sou mulherzinha nessas horas simmmmmm!!

E não, não vou aprender a trocar pneu! Segundo minha rápida pesquisa realizada durante o dia, todas as mulheres que já passaram por isso agiram da mesma forma que eu. Estrupiaram suas rodas e assim tiveram um final feliz e com vida!

Deixa eu correr aqui que tem gente chamando… Preciso comprar um novo par de sapat.. Droga, de rodas! E preciso aprender a fazer isso!

– Meu amor, foi só um pneu furado tá? Diz ele tentando me acalmar de tamanha adrenalina.

– Err… Tá bem… Mas se eu fosse você, para continuar com essa ideia nem pegaria o carro para dirigir…

Uma voltinha depois…

– Nicole, o pneu de trás que furou e o volante fica batendo na frente?

– Err…

E sorrio o mesmo sorriso que dei hoje mais cedo para o motoboy..

– P.S – Posso mandar flores para o João? Ou uma plaquinha do Gentileza? Para ele e dona Joana? <3

 

Sobre Nicole

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Bia disse:

Realismo total.Tive a sensação de que era eu que estava passando esse perrengue. Era nóis mano!