O CONTO DA LENTE

O CONTO DA LENTE

Ser míope.

Ser míope é não conseguir enxergar a placa na rua, o número do ônibus, o letreiro da loja.

Ser míope é além de ser cego, ser surdo e ser mal educado.

– “Pera aí não estou te escutando, deixa eu achar os meus óculos!” (sic)

É não enxergar nada no lusco-fusco e pagar de mal educado ao nunca cumprimentar as pessoas na rua ao entardecer.

Além disso, ser míope é realizar algumas façanhas que podemos chamar de “Lendas Urbanas no Planeta dos Ceguetas.”

Que míope nunca deixou a lente cair e sem estar com seu soro e estojo a tira colo não precisou salvar sua forma de enxergar o mundo? Que míope nunca mandou a lente pra dentro da boca, deu aquela hidratada e tascou no olho de novo?

É verdade, arde pra caceta e com certeza quem inventou essa lenda urbana esqueceu-se de considerar que a boca é um dos lugares com maior quantidade de bactérias no corpo.

Mas o que interessa é que o que arde cura, o que aperta segura e se você já sobreviveu a maioneses de podrões pela madrugada afora e a nojeira que ficam as ruas no Carnaval de Salvador o que uma cuspida na lente pode fazer com você, né?

Que míope que nunca?

E é com essa Lenda Urbana que conto uma história relatada na mesa de um bar mineiro.

No taxi após uma festa regadíssima um casal voltava para casa.

– Ih Maria, minha lente acabou de cair, segura ela aí rapidinho.

Maria que não é boba nem nada tendo amigas míopes em seu convívio logo pensou:

“Preciso salvar a visão do meu marido! Ele precisa enxergar, vou armazena-la em lugar seguro.”

E glubt mandou a lente para dentro de seu armazém bucal sem ele perceber – lógica essa sempre rejeitada quando as amigas faziam mas depois de muitas borbulhas a melhor solução inventada!

Silêncio neste momento era quesito de segurança e assim seguiram até seu apartamento.

No dia seguinte – naquela ressaca – ele vai até o estojo da lente e repara que de um par apenas uma boiava ali.

– Gente, que fim levou a outra lente?

E o desaparecimento da lente vira um mistério quase que insolúvel até a hora que Maria teve um flashback e reviveu a cena do táxi.

– Ferrou! Engoli a lente – pensou.

Observando seu marido assistir a final do campeonato mineiro colado na caixa de som a la Ray Charles ela entendeu que as vezes em um relacionamento omitir é a melhor saída!

E viveram felizes para sempre com ele meio surdo até comprar um novo par de lentes!

Sobre Nicole

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