O DIA EM QUE DESCOBRI QUE SOU UMA VACA, DAS PODEROSAS.

Era um domingo de sol, ele saiu de manhã, para jogar seu futebol…

Mentira. Isso não é um funk, mas era um domingo de sol também.

A vida na roça é um eterno aprendizado para quem é da cidade grande, mas existem alguns aprendizados que são complicados de digerir.

As vacas pastam, e passam o dia migrando de pasto em pasto.

Todo dia, mais ou menos na hora do almoço, elas passam em frente à casa que estou.

Todos os dias.

Por livre e espontânea vontade do grupo como um todo, já que essa movimentação não é induzida por um tiozinho montado em um cavalo gritando: “Araaa”. (Alô galera de cowboy , alô galera de peão).

Certa vez, meu namorado começou a gritar uns barulhos esquisitos e as vacas “meio que” atenderam o comando… Achei aquilo incrível! Tipo, “Nossa que máximo, o Tomás “tocou” elas dali”.

Hoje lá estavam elas, no pasto do almoço preferido delas, em frente à casa.

De brincadeira, tive a GENIAL ideia de gritar MUHH, como se eu tivesse cinco anos de idade.

Sabe criança quando vê cachorro na rua e fica gritando au-au? Tipo isso.

Gritei meu primeiro MUHH. As bichas levantaram as orelhas.

Continuei gritando palavras de ordem, ou melhor, mais MUHHs, e de repente todas elas começaram a correr na minha direção.

(Cantalore agora aquela parte da música Zé do Caroço: Está nascendo um novo líder…)

Foi um bafafá.

O namorado, maravilhado com meu poder de liderança, pedia quase extasiado:

– Anda, continua, grita mais!

E eu mesmo em choque, continuei:

– MUHHH, MUHHHH.

(JURO!)

E elas continuaram trotando até todas pararem na minha frente, prontas para escutar a VACA LÍDER contar as boas novas.

Senti algo meio papal nesse momento. Imaginei que segundos antes, uma fumaça preta havia saído de alguma casinha da roça, onde a vaca líder havia sido finalmente escolhida.

Fiquei cabreira com tanta sinergia, pensei em “todazinimiga” fazendo uma OLA e comemorando:

– Eu sabia que aquela Nicole era uma vaca! Eu sabia!

Quando as vacas estavam bem mais próximas do que eu gostaria, Francisco, o cachorro, resolveu interceder, o que gerou uma onda de tensão entre minhas meninas.

Uma, mais valente, saiu correndo na direção dele, e acho que o bicho entendeu que na cadeia alimentar, elas ainda não eram um churrasco delicioso no qual ele poderia se aproveitar.

Minhas seguidoras continuavam imóveis, loucas para escutar mais de minha pessoa.

Eu, que até então não fazia ideia do meu potencial de VACA LÍDER, resolvi me recolher. Falei alto TCHAU, mas as vibrações não são as mesmas de MUHHH, então elas continuaram estáticas olhando na direção da casa por um bom tempo.

Eu já havia sido representante de turma no colégio. Já ganhei concurso de Sinhazinha na festa junina. Já fui do Pelotão de Honra em desfile de 7 de setembro, mas VACA LÍDER por pura intuição é demais para o meu pobre coração, gente.

O pior de tudo é que quando todas elas se juntaram na minha frente, eu ainda cantei:

– Prepara! Que agora é a hora do show das poderosas…

A minha sorte, gente, a minha sorte, é que vaca de roça não sabe dançar, porque se começasse um flashmob eu ia ficar bolada para cacete.

E imagina se nesse meio tempo batesse um vento? Eu ainda poderia ficar falando para sempre a língua do MUH!

Pre-pa-ra!