O Rock in Rio é mais do que um festival.
Aliás, minto.
Não estamos acostumados com festivais, logo sempre nos surpreendemos quando vivemos o significado da palavra festival.
Não. Rock in Rio nunca será Woodstock. Não. Rock in Rio nunca será como os festivais de rock que rolam nos EUA. Sim, já foi o tempo que o Rock in Rio era um festival de rock.
Aceitemos. O Rock in Rio é o Rock in Rio.
Desapeguemos do nome, já estamos grandinhos, já não é o primeiro e já conhecemos o esquema.
Quer ir? Vá. Não quer? A TV a cabo tem uma vasta programação.
Prepare sua mochila, calce um sapato confortável e vá.
Pegue vários ônibus de linha e pare em uma parte da cidade cheias de novos condomínios bem longe da Zona Sul, bem mesmo!
Observe a estrutura do RinR de 2001 apodrecendo no meio de novos condomínios crescendo ao redor.
Seu Facebook vai apontar para Curicica e você vai caminhar.
Vai passar por uma fila, duas filas, separa galera que está de bolsa e mochila dos que estão sem nada.
E de repente, você e uma multidão estarão na Cidade do Rock. Um descampado que por duas semanas se torna um lugar cheio de vida unindo pessoas do mundo todo.
A música une.
Tem para todos os gostos, tem gente de tudo quanto é idade.
A multidão vive em paz, trambulhões são retribuídos com educados pedidos de desculpas.
Os shows acontecem, a multidão canta, come, bebe, chora, grita.
Mais para o final da noite, uma multidão de exaustos peregrinos sacam suas cangas e no maior acampamento sem barracas a céu aberto, descansam e até mesmo dormem em harmonia.
Já dizia Lenine em “do it”:
“Tá cansada, senta (…) Tá feliz, requebre…”
Encontrar os amigos no meio daquele mar de gente se torna uma feliz surpresa, caminhar léguas até a menininha de LED que aparece correndo segurando a bexiga e não encontrar fila é gratificante.
Dar o braço a torcer e rever os planos de não comprar o chopp temperatura ambiente do Heineken man por R$10 faz parte do processo.
Ver seu cantor favorito com os olhos marejados de lágrimas emocionado e feliz e saber que você faz parte daquela emoção, é do cacete.
Ir embora depois de muito resistir as dores do pé e andar kms até o ponto que levaria aquela multidão à Alvorada e de lá partir para uma nova viagem.
No meio do caminho fazer carinho no bonito cavalo da Polícia Militar que escolta o mar de gente em paz, com seus imensos cacetetes nada à postos.
Ficar horas para descer uma tirolesa ou andar em uma roda gigante, feliz e paciente como se aquilo ali fosse a Disneylandia.
No caminho de volta perceber que uma fila já está formada para o show do dia seguinte, cheia de gente – E não são nem duas da manhã.
O namorado – marinheiro de primeira viagem e já com algumas Heinekens quentes na cabeça – confidencia:
– Obrigado, sempre quis participar disso.
E aí realizo que na segunda-feira, naquele mesmo ambiente não haverá mais multidões, ídolos, geradores queimando diesel.
Na segunda-feira aquele mesmo lugar que deu lugar a um imenso festival nada mais será que um escuro e vazio descampado.
Que bom que não será essa nossa última memória de lá.
Como dizia o velho funk:
“O festival daqui é muito bom uou, o festival é um jogo de emoções…”
Valeu Rock in Rio, no final das contas você sempre é um feliz programa de índio!