N/a Crônicas
O mais bacana quando viajamos é que temos a oportunidade de conhecer pessoas, culturas e histórias que dentro da nossa bolha de realidade não seria possível.
Esta ilha é a única na região caribenha que abriga dois países. Três quartos da ilha abriga a República Dominicana e um quarto abriga o Haiti.
Historicamente haitianos e dominicanos não se bicam muito. O Haiti foi colonizado por franceses, a Rep. Dominicana por espanhóis e as guerras sempre fizeram parte da historia da ilha.
Como todos sabemos, a alguns anos atrás o Haiti foi destruído por um terremoto de proporções catastróficas e o mundo voltou suas atenções para aquele pedaço de ilha desolado.
É aí que entra esse cara da foto. Esse cara é um bombeiro holandês que estava em um mesmo passeio que a gente. O guia estava contando a historia da ilha e então ele comentou que já estivera no Haiti – foi a deixa para que eu puxasse papo com ele.
Primeiro ele se mostrou impressionado em como uma mesma ilha pudesse ser tão diferente.
Ele me disse que havia estado no Haiti logo depois do terremoto. Me contou que fazia parte de um grupo de resgate internacional e que tinha ido lá para tentar salvar vidas.
O naipe do cara era de tudo, menos o de um herói. Não sei porque mas quando o cara me contou aquilo fiquei meio boba, feliz de te-lo conhecido, orgulhosa sabe? E ao falar isso ele me disse com muita simplicidade: Eram vidas, e vidas precisam ser salvas. Era o mínimo que ele poderia fazer.
Ele saiu do conforto do seu lar para encarar o caos, a tragédia. Me disse que não havia muito a ser feito lá, a destruição era total, mas que ele ajudou no que pode. Perguntei em quais outros terremotos ele esteve presente, e ele me passou uma lista respeitável. Disse que em países desenvolvidos era de praxe ter grupos como o dele.
Chegamos no barco e ele se destacou com sua alegria e bom humor. O Tom logo brincou com sua esposa dizendo que ele parecia um rock star. Foi aí que ele sorriu e disse:
– O mundo está cheio de guerra, precisamos viver com alegria.
E foi assim que um holandês com bigode esquisito conquistou meu respeito e admiração.
Com simplicidade, tendo visto o que havia de mais triste no mundo ele sabe, provavelmente mais que todos nós a benção que é viver. Sabe como somos frágeis e por isso como devemos aproveitar cada minuto com alegria.
Foi um prazer te conhecer, bigode engraçado.
Ah! A moça da foto não é a sua esposa, sua esposa estava perto rindo. A moça da foto é uma garçonete do barco dominicana cheia de gingado que me mandou um beijo no ombro em homenagem ao Brasil.
