O PASSEIO DA ROSA

O PASSEIO DA ROSA

Finalmente o tão esperado fim da semana de trabalho termina.

É hora de voltar para casa, é hora de encontrar os amigos, é hora de estar com a família.

É hora de passar o crachá e desejar um bom final de semana com um semblante em processo de abertura de guarda para o mocinho da portaria.

Milhares de pessoas pegam seus carros e rumam para seus destinos formando uma massa parada só.

Em uma rua qualquer vendedores circulam entre os carros, aproveitando-se da pouco eficiência do sinal de trânsito.

Parada ali, igual a tantas outras pessoas fiquei acompanhando um vendedor de rosas.

Vender rosas em uma rua completamente parada, na hora do rush, na maior capital do Brasil me soou má idéia.

Somos milhares buscando a libertação de nossas almas, e temos a consciência que essa liberdade irá demorar mais ainda graças a esse sinal desta rua.

Na minha rádio imaginária toca “The traffic jam, when you are already late…”

Pobre vendedor, não existe amor em São Paulo nestas condições.

Mas espera um pouco…

O carro da frente abre seu vidro, quebrando imediatamente a nítida barreira entre os dois mundos daquela rua.

O trânsito estava uma bosta, ele provavelmente estava longe de casa, provavelmente também tivera um dia difícil.

Tudo que ele queria era apenas chegar em casa, tirar o sapato, se jogar no sofá e esquecer por alguns instantes das obrigações da vida.

Mas mesmo com um peso nas costas, ele transformou uma situação cotidiana, muito mais dramatizada às sextas-feiras em um sorriso de alguém que o espera.

Aquela rosa que tanto subiu e desceu aquela rua, agora descansa em um banco de carona, vendo a vida por uma nova perspectiva, caminhando para o desconhecido.

Caminhando para o momento que ela, a rosa, vai entender a razão de ter sido colhida sem aviso prévio, de ter sido tirada de um alegre ambiente sem dizer sequer adeus às suas semelhantes.

Na hora que alguma porta em algum lugar desta cidade abrir, aquela rosa já cansada de tanto trabalho e tanta negação vai entender que o barato da vida é fazer alguém sorrir, apesar de tudo que deixa a vida um pouco mais dura.

——–

Em tempo: Enquanto observava a venda da rosa, uma senhora aproximou-se do carro. Ela vestia uma camisa verde identificando-a como vendedora ambulante da região. O namorado agradeceu e fez que não com a cabeça. Ela tentou novas janelas enquanto eu começava a rascunhar o que observava. Quando retornei o olhar para além do bloco de notas do celular, percebi que aquela senhora estava novamente na nossa janela tentando convencer o namorado a de repente, fazer uma surpresa enquanto eu estava distraída.

Não, não foi dessa vez. Mas valeu. Valeu pela quebra de barreira do mocinho à frente. Valeu pela alegria que alguém irá sentir e valeu mais ainda por ver a senhorinha acreditando no poder das suas rosas.

Seu trabalho, pode ter certeza, é vital para a sobrevivência desta cidade.

Palavra de Nicole.

<3

Sobre Nicole

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