– Vó me conta mais do seu casamento…
– Nicky, ele quase não aconteceu sabia? Seus bisavós não gostavam muito da idéia de papai e mamãe estarem separados, e pior, já casados novamente! Isso nos anos 50 era muita modernidade para uma família só.
Ela senta ao meu lado e com um sorriso maroto desenvolve a história:
– Então por isso um belo dia resolvi terminar meu noivado. Aquele preconceito me incomodava muito. Passei a mão no telefone e liguei para o seu avô. Ele desesperou, pegou um avião e veio correndo tentar impedir o término.
– Fábio, se você quer mesmo casar comigo vai ter que pedir para seus pais virem pedir minha mão. Ah, não se esqueça de avisar que eles precisam me trazer uma jóia.
– Nossa Vó! Que mercenária!
– Mercenária nada filha, queria apenas uma prova que de fato eles faziam bom grado do nosso casamento. E em noivados a noiva sempre é presenteada com uma jóia, oras.
– Hm, prossiga…
– E assim eles fizeram! E o melhor, no casamento todos compareceram! Papai, mamãe e os respectivos cônjuges! Incrível!
– Mas então você ganhou uma jóia?
– Sim. Um broche lindo. Mas também dei um presente lindo para o seu avô… Uma espingarda!
– Nossa Vó. Que romântico seu presente!
Ela riu e continuou contando:
– Ele vivia em obras por esse Brasil – e eu sempre com ele – por isso ele fazia questão de pegar a espingarda que eu havia lhe presenteado, me levava lá para os meios dos peões e me botava para atirar. Assim os peões já sabiam que a esposa do Fábio passava muito tempo sozinha mas sabia atirar que era uma beleza!
– E como era atirar, Vó?
– Ah eu só não gostava de atirar com revólver… Você já viu qual é a posição de atirar com revólver?
Ela flexiona os joelhos, finge apontar a arma com dois braços e joga o bumbum pra trás, quase desequilibra e fala:
– Nessa posição não dá, né Nicky? Muita pouca vergonha. Eu era muito mais a espingarda do seu avô!
E sai rindo, feliz e nostálgica!
Ah essa Dona Carmelita!