N/a Crônicas
Jogar vôlei na Praia de Ipanema não é para qualquer um. É como ter acesso livre ao Country Club com zero bolas pretas.
Entrar em uma daquelas quadras é de uma puta responsabilidade moral de um cidadão carioca.
Cidadão este que mora onde o mundo tira férias, onde o mundo busca Helô Pinheiros e na sua ausência fotografa sua fauna, sua flora, sua gente e seus hábitos.
Sim, estar em uma rede a trinta passos do mar e a dez da ciclovia é estar exposto para o mundo.
É virar souvenir e recordação dos suecos que por lá passaram e fotografaram aquele povo bronzeado.
É ser aquele povo.
É ser confundida com atletas de primeira (nas primeiras frações de segundos – óbvio).
Estar dentro daquela quadra impõe respeito, impõe moral.
É o ápice do carioquismo!
Participar daquele momento envolve tamanha pressão quanto fechar um deal em alguma operação de M&A.
Você precisa fazer valer estar ali. Honrar seu carioquismo. Fazer bonito, se jogar de corpo e fuça na areia para buscar aquela bola linda e garantir o ponto de sua equipe.
Você está ali para as lentes do mundo todo e para aqueles que dividem um dos metros quadrados mais caros do planeta.
A pressão te faz errar a manchete. O coração acelera.
– Relaxa você está entre amigos.
Sim, eu estou entre amigos, mas todos ali carregam a mesma pressão que pesa em minhas costas.
Ser carioca e se mostrar carioca é coisa séria.
É preciso ter mais ginga do que jogo. E quando as pessoas menos esperarem saia de fininho da quadra, bem Marina Lima… “Mas se você saísse a francesa eu viajaria muito mais muito mais…” e malandramente se junte aquela massa de reles cariocas mas que também tem seu valor!
Porque para alguns basta apenas uma foto, um dedo luxado, areia até a alma e a certeza que jogar vôlei em Ipanema não é para qualquer um! E por isso continuarei com meu patins feliz e contente, mas guardarei com muito orgulho a minha foto para quem quiser ver, a foto daquela Nikita bronzeada mostrando seu valor!
Afinal de contas, o que seria de nós cariocas sem a nossa famosa malandragem?
– Irado! Você joga vôlei na praia?
– Lógico mermão! Deixa eu te mostrar uma foto!
