Você pode ler esse texto escutando essa música aqui.
Outro dia passei um perfume velho.
Não tinha reparado que ele poderia estar velho até esbafora-lo algumas significativas vezes em mim.
Sem muita saída, a não ser abrir o vidro do carro para não morrer sufocada, comecei a refletir sobre o fato.
O flagelo seria longo, pois só retornaria para casa algumas muitas horas depois.
Muito pior do que um flagelo solitário, é um flagelo compartilhado, pois eu teria que conviver com várias outras pessoas que não tinham nada a ver com a minha estúpida decisão de esbaforar coisa velha na minha própria pele.
Mas para que tanta dramatização em cima de um perfume velho, Nicole?
Sabe-se lá porque (sabe-se sim, trânsito bizarro), comecei a fazer algumas associações com historias vividas e ouvidas nesta vida.
Quantas vezes não percebemos que algo expirou? Saiu de sua validade? Ou até mesmo fingimos não perceber e vamos nos arrastando em cima deste fingimento e carregando outras pessoas conosco neste barco furado que já deveria ter naufragado a milhas naúticas atras?
Quem nunca insistiu demais em algo? Tentou até perder as forças e às vezes a própria dignidade?
Estou longe de ser uma Nikita HITCH, mas aquele perfume velho e o trânsito de São Paulo me fizeram viajar no tempo, com todo aquele tempo congestionada.
Em certo momento da minha vida, eu gostava de um rapaz e demorei para perceber que o prazo de validade para com a minha pessoa havia expirado antes da minha data de vencimento para com o gatinho.
Quem nunca, né meu povo?
Na época (ô, coloca uns bons muitos anos nesta conta), eu demorei a entender a situação. Fui vivendo e não parei para analisar os fatos de maneira racional, então joguei o coração debaixo do tapete.
Antes de juntar meu coração com o pó de debaixo do tapete, ou melhor, antes de juntar o pó que havia se tornado meu coração quebrado (violinos ao fundo, por favor), precisava buscar um perfume que havia pedido para o cara comprar na volta de uma viagem internacional.
Guardei o perfume novo em uma gaveta e continuei usando o anterior que ainda não havia acabado.
E segui a minha vida com a marca de um pé tatuado em minha bunda.
Alguns anos se passaram e um belo dia arrumando um gavetão, quem eu encontro? O tal do diabo do perfume, fechado ainda com o plástico.
O perfume se chamava ROMANCE e ao abri-lo percebi na hora que aquele ROMANCE havia vencido e que não adiantaria nada usa-lo mais em mim.
Usa-lo só me traria dor de cabeça.
Joguei o Romance no lixo.
(Ficou com um quê de MR. Catra a frase de cima, né?)
Tá, mas e aí Nicole? Por que você está escrevendo isso?
Ah gente, simplesmente porque fiquei maior tempão parada em um trânsito chato do cacete, com a Hora do Brasil no dial, com um perfume velho que só me deu dor de cabeça, então resolvi dar uma bela viajada na maionese da vida.
E aí comecei a pensar em quantas vezes prolongamos demais as histórias que já passaram da validade e que só te dão dor de cabeça, não é mesmo?
Façam como eu, jogue fora o ROMANCE e vá procurar por novas fragrâncias!
(Não que eu tenha demorado anos para esquecer AQUELE romance, mas tive um certo trabalho por culpa do meu amadorismo juvenil. Mas o importante é que achei tão metafórico a associação do perfume ROMANCE, com o prazo de validade expirado que gostei da viagem e resolvi escrever sobre o assunto.)
(O ROMANCE continua sendo um dos meus perfumes favoritos do dia a dia. Tenho, inclusive, um no armário e este daí está super na validade, metaforicamente e objetivamente falando <3.)
(Eu e minha mania de explicar tudo que eu escrevo.)