Sábado, um dia lindo de sol, daqueles sábados de lotar praias cariocas, sabe?
Mas nem todo dia lindo de final de semana tem uma praia para ser lotada, não é mesmo?
Estou rodeada por prédios em construção, tenho a sensação de estar na Barra da Tijuca de vinte anos atrás.
Gruas, guindastes, operários e terrenos baldio.
Enquanto observo os enormes esqueletos das torres percebo um terreno baldio que nos separa.
Não existe movimento de pedestres nessa rua e por isso a presença de um adolescente no terreno ao lado chama a minha atenção.
Resolvo parar de olhar para cima e olhar para baixo, já tendo como certo que aquele menino no meio do nada provavelmente coisa boa não estava querendo fazer.
Ele carrega uma sacola e observa atentamente a rua.
Olha para um lado, olha para outro.
Bom, assaltar não tem nem como, uma vez que nesta rua só carros passam e não há nenhum sinal de trânsito… Putz, deve ser então um crackudinho… – pensei já desacreditada no futuro da nação.
O menino então senta no chão e começa a abrir sua sacola de plástico, de lá sai uma espécie de folha com forma geométrica e roxa.
Ele continua a olhar para os cantos e eu continuo a pensar “what the fuck…” lá do alto da varanda.
Olho para a outra rua de trás, a qual termina o terreno baldio sem muros e vejo mais três adolescentes também em alerta.
Os três com pipas em suas mãos.
Volto meu olhar ao menino e realizo que aquela forma geométrica roxa também era uma pipa!
Provavelmente marcaram de se encontrarem no terreno baldio, mas não lembraram de dizer de qual lado.
Eu do alto conseguia visualizar o menino de um lado e seus amigos no outro lado da rua. Confesso que quase gritei para avisa-lo, ainda sem graça de meus pensamentos, mas não foi necessário… Em minutos vejo quem antes eu havia rotulado de crackudinho atendendo uma ligação em seu celular.
Eram os amigos na rua de cima com o único intuito de aproveitar um belo sábado de sol sem praia mas com um vento interessante.
Ali, no meio do nada, percebi que precisamos acreditar a priori em coisas positivas e não sair pensando apenas no pior, afinal era apenas um adolescente sozinho em uma rua sem movimento em um dia em que deveria ser proibido ficar dentro de casa e imaginando besteira e desacreditada do mundo, como eu!