N/a Crônicas
Barueri fica localizada na região metropolitana de São Paulo e ficou conhecida há uns quarenta anos atrás, quando uma fazenda foi vendida e no lugar dela foi construído um condomínio chamado Alphaville. A propaganda era de deixar qualquer paulista ba-ban-do: O paraíso distante apenas vinte minutos da Paulista (Ahãm).
Sua principal fonte de arrecadação são os impostos das grandes empresas que vieram para cá junto com Zeze de Camargo e Luciano e há pouco tempo também a pessoa que vos escreve.
Não, não sou vizinha de Zezé em um daqueles incríveis residenciais a la Bevely Hills. Sou vizinha, na verdade, de um bando de gente nova, que mora em prédio novo no meio de um bairro novo que trabalha para alguma empresa dessas que arrecadam um tantão de dinheiro para Baruelândia.
Existem os moradores de Barueri, nascidos e criados aqui, os moradores dos residênciais e os outros.
Cada um desses grupos vivem em um fantástico mundo, e o mundo dos outros é o mundo da desinformação sobre o próprio teto, também né? Essa molecada só trabalha.
Os outros suspeitam do movimento na rua sempre tão sem vida na noite de terça-feira. Suspeitam que pode ser a inauguração do bar, de repente. Hm estranho, está tudo escuro. Muito escuro. Ihhhh polícia. Ihhhh mais polícia. Polícia, multidão. Já to vendo, mataram alguém.
Na varanda os outros reparam que está tudo apagado, inclusive a rua ao lado. Ih, quanto carro estacionado. Quanta gente na rua. Porque o ginásio tá apagado hein!? E porque esses holofotes? Cruzes! A ponte gigante tá fechada e apagada. É impressão minha ou tem pessoas caminhando nela? Centenas? Milhares? Eu hein.
Que coisa mais esquisita… Muito estranho isso, tô ficando meio bolada. Será que é algum ritual? Liga para o porteiro e pergunta que que tá acontecendo cara! O estacionamento do ginásio tá deserto.
É impressão minha ou existem vários pontos de luzes tipo de celular ao redor do estacionamento? E na ponte? Que tanto de balão com fogos são esses no céu? Eu hein, meio mórbido isso. Se começar a tocar um canto gregoriano acho que faço xixi na calça de medo hein. Bom, vou tomar é meu banho.
De repente, tiro, porr#*&¨$a e bomba!! Suspende a operação banho e corre para varanda.
No estacionamento sombriamente isolado, uma cascata de fogos, depois mais fogos ao redor de uma bandeira que parece ser a de um santo. São dez da noite e todas aquelas luzes andantes são de pessoas, que caminharam na escuridão por alguma razão.
Assisto de camarote. Começa uma queima de fogos. Continua uma queima de fogos. Fogos lindos. Efeitos. Sons. Mais fogos. Dez minutos. Uou. Vou dar um Google. Ah! Feriado municipal, dia do padroeiro de Barueri. Ah é? Quem é? São João Batista. Ué, mas para mim SJ Batista é nome de cemitério. Caramba. Esses fogos estão pertos, né? Se eu fosse o morador do 23 andar eu taria meio bolado. Quinze minutos de fogos na janela de casa. Cara se eu fosse o morador do 23 eu continuaria muito bolado.
Mais queima. Esses fogos não acabam não? Wow, que maravilha. Caraca. Será que esses fogos tem controle? Daria uma bela merda de eles perdessem o rumo hein? Ai cara, to ficando com medo. Passo para trás. Se esconde atras do namorado.
Nossa, que lindeza gente. Nunca mais falo que Barueri é no fim do mundo. Tô preocupada, acho que acabaram com os estoques da loja de fogos do centrinho, gente. Vinte e cinco minutos. Nossa até o drone tá na parada. Wow, quanto balão. Nossa que lindeza, você viu esse “fogo”?
Ai que medo. Trinta minutos. Mas meu Deus não tem fim? Is this real world? Tom, já tô ficando meio tensa cara. Tava bonito, mas meia hora? É o fim da odisséia humana na terra? Será que estamos para morrer e essa é a ultima cena? A cena do adeus? É para gritar Mazel Tov? Pô, nem em um apê na Atlântica em Copa dava para ver tão de perto hein.
Trinta e dois minutos. Pô, quanto tá custando essa queima, hein? Trinta e oito minutos depois muitas palmas e a certeza que esse tal de João Santo aí né pouca coisa não e se em Osaco nasceu o funk ostentação, em Barueri….
E eu achando que São João Batista era só um cemitério.
Aí vem Seu João B. e com um beijinho no ombro mostra que podemos sempre ter uma segunda (boa) impressão da vida e porque não da morte também né? Afinal ele não é apenas um cemitério! E por falar nisso:
Viva São João Batista! Viva! E viva as lindas surpresas que Baruelândia anda aprontando sorrateiramente, aproveitando-se da ignorância de seus forasteiros.
