Hoje no café nos perguntamos quando choramos e se choramos.
Confesso que a adrenalina de estar aqui te faz ser mais forte do que você é. E como estamos tendo pouco tempo para pensar na vida e quando temos é hora de dormir e estamos destruídos não filosofamos muito.
Mas ontem eu chorei, estava limpando uma baia com três cachorros, um tinha acabado de chegar de uma cirurgia grogue, grogue, outro eu tinha achado que era velhinho pelo olhar. E tinha outro que não dava muita bola.
Além de limpar, trocar água e colocar ração também damos carinho.
Esses cachorros estão muito assustados, alguns em choque, outros de tão deprimidos só ficam em um cantinho. E a maioria está muito carente.
Eles não entendem o que está acontecendo.
Fiz carinho em todos mas resolvi focar no que estava mais aéreo. Ele não me olhava, não interagia. Mas insisti. Resolvi olhar os dentes dele e ele não tinha mais nenhum.
Ele é super velhinho.
Super. Provavelmente até cego.
Fiquei lá conversando com ele e dando carinho, nessa hora eu chorei.
Até que o outro maior resolveu reclamar, e eles brigaram nível briga de cachorro de precisar de mais uma pessoa para ajudar a apartar.
Depois descobri, a briga foi por ciúmes do carinho.
Quando sai da baia, o velhinho sem dente abanava discretamente o rabinho.
É interessante o trabalho de recuperação de confiança desses bichinhos.
Alguns já escutam a nossa voz e esboçam uma pequena abanada.
Cachorros que passaram dias sem entender o que estava acontecendo.
Hoje devemos ir a campo se o tempo permitir e sei que vai ser complicado.
Uma amiga que já atuou in loco na tragédia de Friburgo disse que essa experiência seria “life changing”.
Tenho certeza disso.
Agora pela manhã estamos tendo um café mais demorado, o que me fez refletir pela primeira vez.
Se eu pudesse descrever o que eu sinto seria nó no coração.
Mas nó no coração não ajuda nada, então vamos trabalhar e fazer a nossa parte.
(Essa foto não é do velhinho, mas de outra gracinha de cão)