SEU GUARDA EU NÃO SOU VAGABUNDO

SEU GUARDA EU NÃO SOU VAGABUNDO

Seu guarda eu não sou vagabundo, eu não sou delinquente sou uma moça em dia de rodízio atrasada por causa deleeeees.

Como tudo na vida o dia de rodízio tem seus pontos positivos e negativos.

Positivos para a cidade como uma forma paliativa de tentar melhorar o caos que se tornou a grande São Paulo. Se é ruim com o rodízio, pior sem ele.

Negativo por que seu nível de adrenalina atinge the all time high em um horário que só mercados de outros fusos estão abertos!

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Para quem não vive essa realidade uma rápida explicação: Todos os dias da semana em determinadas faixas da cidade é proibido transitar com seu carro com final de placa x. Essa proibição acontece de 7 da manhã às 10hrs e de (acho, nunca pude arriscar por estar trabalhando) 16hrs até as 20hrs.

– Ahhh mas eu vou ali pertinho, não tem radar…

É, vai nessa. Eu dei uma de malandrinha duas vezes, na segunda Deus castigou. Na esquina do trabalho, faltando cinco metros topei com a trupe de marronzinhos em uma caminhonete. Estava no sinal contrário à eles e juro que naquele momento eles seriam os caça-fantasmas. Sim. Eles usam macacão. E usam aparelhos tecnológicos e detectam… Foras da lei! Não deu outra. Emanei a luz do fazendo merdinha e meu carro deve ter piscado igual aquela estrelinha de brinquedo com cara sorridente que tínhamos quando crianças, sabe? Aquela que você colocava na palma da mão e ela começava a piscar. Pois é. Era a primeira do sinal e recebi uma sirene. Gostaria de coração que a sirene tivesse sido do tipo “Uouuuuuuuuu que loura”, mas não sei. Por enquanto nenhuma taxa por ser loura em horário inadequado chegou para que seja paga. Bom, depois disso virei a maior careta em relação aos CÊÊÊT, mano.

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Voltemos ao dia de hoje.

Sai de casa quase do jeito que acordei, com a diferença que estava de banho tomado e roupa social.

Maquiagem, perfume, pente… A gente resolve depois.

Faltavam cinquenta minutos para o rodízio começar a valer, e sabia que naquele horário levaria trinta, então usei a margem de erro do Ibope para chegar ao meu objetivo com segurança.

Obvio que encarei um trânsito surreal, com três batidas inclusive de um caminhão de obras (que era de bolinhas), quando consegui passar por ele tinha um cara tirando foto da boleia do caminhão. Fiquei em dúvida se era o envolvido no acidente ou se era alguém que logo logo postaria alguma hashtag fofa no instagram.

Enfim.

O radar da cidade universitária piscava incessantemente no Waze. Como um lembrete de algo muito importante.

Cada minutos passado era um novo cálculo mental de rota.

Fiquei treinando meu diálogo que teria com o marronzinho.

Poxa, você sai no horário, antes aliás, é aí um povo resolve bater de carro e quem paga a conta somos nós?? Deveria funcionar igual aos aeroportos. Tá chamando o vôo? Passa na frente! Vaaaaaaai seu sete (placa do dia), bora!!!

Dizem que paulistano adora mudar de pista, e eu mesmo não sendo uma paulistana, preciso concordar, ainda mais faltando minutos para seu gongo tocar. Parecia uma árvore de Natal com luzes piscantes de tanta seta para lá, seta para cá.

Obviamente nesse meio tempo fui repreendida por um motoboy que fez não com a cabeça em uma das minhas manobras.

Porra, amigo!!! Olha a minha plaaaaaaaca!!! Carajo! Seteeeeeee! Olha a hora… Quatro pras seteeee!!! Deixa eu usar a minha pista a que tenho direito!!

Gentilezas meirmão, nessas horas só para placas como a sua.

Tudo bem que a humanidade que está dirigindo e não está em seu dia de rodízio não tem como saber que você estava congestionada por causa de caminhões de bolinhas que deram totó em carros de passeio.

Mas não, nos próximos três minutos a gentileza está restrita. Só existe camaradagem em placas com o mesmo final que o seu e o número oito, seu par do dia.

Não estou só e faltando dois minutos cruzei o último radar que tenho conhecimento.

Mas espera, não acabou!!

Os marronzinhos são Gremmlings que saem de formigueiros em horas muito peculiares, tipo quando o relógio marca sete da manhã.

Sabia que em determinado lugar eles poderiam estar brotando. Concentração. Pense na luz violeta. Tudo que eu quiser, o cara lá de cima vai me daaaaar..

Ufaaaa!!

Sete e dois.

Como em uma última volta na Fórmula 1, eu e mais três carros adentramos as ruas do Itaim. Nos protegíamos e naquele momento éramos da mesma seita.

A seita dos ilegais for a reason!

Calma Nicole, tudo vai dar certo, você só trabalha na rua onde TODOS os marronzinhos da região tomam café na padoca. E se eles não estavam onde sempre ficam….

Padoca, padoca, padoca.

Droga, que fome!

Pô, não tomei café.

Nessa hora apenas eu e a Tucson de placa final sete passamos pela rua, asfaltada decentemente de novo.

Padoca chegando, padoca chegando.

Tantantan.

Tantantan.

Cadê minha bandeirinha do Brasil, geeeeeeeente????

E depois da padoca dirijo mais uns duzentos metros na ilegalidade feliz e vitoriosa.

Pronto, hora de me perfumar e me preparar para a vida!

Bom dia São Paulo!

Sobre Nicole

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Marcos disse:

Só uma correção… É das 17h às 20h! 😉

Boa! Nada como alguem original de SP para corrigir cariocas!! 🙂