Todo mundo já quis ser invisível na vida nem que por alguns instantes, mas venho reparando que existe uma profissão onde involuntariamente as pessoas se tornam invisíveis.
Estou falando dos porteiros de prédio. Eu não sei, mas as vezes me sinto uma alien, uma alien que observa, mas uma alien.
Ao entrar ou sair dou bom dia, boa tarde e muitas vezes puxo conversa, afinal de contas os porteiros fazem parte do meu dia a dia e além de apertarem o botão para abrir a porta são pessoas, não um vaso chinês cafona largado ao lado do elevador.
Só que nesses momentos de conversa fora passam por mim moradores, moradores esses que sequer fazem contato visual com o porteiro.
O que há de errado com essas pessoas?
Gente, eu não sei vocês mas graças a Deus a vida me deu porteiros extremamente especiais a quem eu tenho uma consideração enorme! São homens que podemos contar faça chuva ou faça sol, com geléia fechada a vácuo postas no elevador e socorro de velhinhas acidentadas.
Quando saí de casa, Jorge porteiro de décadas do meu antigo prédio, fez questão de me dar seu celular, caso eu precisasse lhe chamar em uma emergência com a minha avó.
Ramos passou anos mal me cumprimentando, lógico! Havia passado anos o chamando de Santos. Após a minha correção no meu banco de dados já sorri para mim, mas no canto de seu sorriso vejo que ele tem o segredo dos porteiros noturnos! Ele tem o poder da lembrança de cada vez que cheguei em casa com sandálias na mão dando boa noite para Alah enquanto já saia um velhinho para caminhar na praia.
Max era porteiro do antigo prédio do meu namorado, quando ele se mudou meu coração apertou por todos os motivos do mundo, mas também porque aquele time formado por Max, Sérgio e seu Luiz não fariam mais parte da minha vida.
Na hora do tchau final Max estava com os olhos brilhando, como os meus. Seu Luiz ajudou em todo o trâmite da mudança e sempre tratou o Tomas como se fosse filho, afinal era um rapaz longe da família no Rio de Janeiro.
Seu Luiz havia adotado uma gatinha que uma moradora havia tacado pela janela. Era a Maricota, vivia nos fundos do prédio e comia do bom e do melhor.
– Mas Seu Luiz e quando o senhor se aposentar?
– Maricota vai comigo, lógico!
Claudio, o porteiro gente boa do meu prédio vira e mexe me chama de Catherina, eu relevo, percebo que aqui se faz, aqui se paga e o Ramos agradece essa troca de nomes mesmo trabalhando em outro prédio. Me pediu para ensina-lo a usar o Facebook no celular, queria falar com a família que estava no Nordeste. Gastei dez minutos para ensina-lo e outro dia ele estava sorrindo de orelha a orelha, havia visto a mãe por video.
Nildo, o porteiro da noite certa vez interfonou a entrega ao mesmo tempo que o entregador tocou a campanhia. Displicência? Que nada. Ele havia achado o cara estranho, mesmo sabendo que sempre pedia comida daquele restaurante, e enquanto o entregador subia ele interfonava para o vizinho policial para a minha segurança.
João é broncossauro e adora uma cachaça, mas atravessa a Dona Carmelita na rua a qualquer hora do dia! Quando saí de casa era ele na portaria. Ele estava amoado.
Eu também João, não foi fácil.
Toda semana, quando retorno na minha avó, sou super bem recepcionada desde lá de baixo.
Carlos sempre manda abraço para Tomás e sorri com um sorriso sincero de me ver por aquelas bandas.
O porteiro do prédio ao lado sabe meu nome e de longe fala: Tá sumida Nicole!!
Aí eu te pergunto? Qual é o problema dessas pessoas que quiçá cumprimentam quem trabalha para o bem estar delas??
Eles tem uma profissão como qualquer um e vínculos se criam com pessoas, sabiam?!
E porteiros, surprise! Também são pessoas muitas vezes muito mais incríveis do que quem sobe no elevador.
Na próxima pego o morador pela gola da blusa e mandou voltar e entrar de novo.
Povo sem educação.