Pela manhã nem todos os seres humanos são um poço de simpatia, isso é sabido e muitas vezes sofrido na própria pele.
Seja como receptor ou entregador, um bom dia nem sempre é fácil.
– Ele acordou com o ovo esquerdo virado, já dizia o ditado popular.
– I’m not a morning person, pipoca no Instagram.
Ou em outros casos:
TPM. (Olha ela de novo!)
Sim, nem sempre acordamos saudando o sol – o que é um absurdo, né? Acho que até entendi porque ele me fritou na semana passada: Revenge! Há!
Mas voltando ao mau humor matinal a que hoje pertenço (cia), fiz sinal para o frescão.
Subo no ônibus e dou aquele bom dia de canto de boca, só para constar nos autos que tanto prego.
Sou recepcionada com um bom dia tão verdadeiro e um tudo bem olhando nos olhos que até desnorteei.
– Caceta preta de agulha, me assustei, como o cara que foi doar sangue e virou hit na internet.
Um a zero motorista de ônibus.
Ele deu um jab tão grande de esquerda no mau humor que fiz questão de sentar na primeira cadeira para ver se absorvia um pouco mais daquela good vibe que não entendia da onde saía.
A cada passageiro que subia ele agia da mesma forma. De Ipanema até o Leblon pude assistir de camarote a arte de quebrar alguém que está apenas no automático da vida.
Os passageiros entravam no ônibus no modo nhé, mesmo com um sol lindo lá fora e saiam quase cantando alto “Oh, happy day!“.
(Sim, na minha amostra de hoje, noventa e cinco porcento das pessoas estavam no modo quase rosnando.)
– Fala comigo, pedia o motorista ao ver o passageiro se aproximar para descer.
– Esse lance de apertar botão e não poder falar com o motorista para mim não funciona! Fala que eu te escuto, ou melhor, fala onde você quer que eu pare!
– Você não pode parar ali na Jeronimo, né? Tem fiscal.
– Minha filha, olha o céu sem nenhuma nuvem! Eu sou o meu fiscal! É aqui que fica melhor para você? É aqui que vou parar, então! Um bom trabalho, fica com Deus e até amanhã.
– Glubt. O céu está sem nuvem, é? O meu céu estava tão carregado que nem reparei.
Assim fui bem tratada de graça! For free! Não só eu mas todos que entraram e saíram daquele frescão!
E imaginar que ontem a noite no meu mau humor intragável, pensei que a única atitude que me salvaria seria passar uns dias em uma praia bem longe daqui sem ondas e com água quentinha e ninguém para encher a porra do meu saco.
Mal sabia que a paz que eu tanto buscava iria encontrar a caminho do trabalho, sem querer via um motorista de ônibus.
Dia bonito hoje, né?