Vânia.
A moça que está na praça se chama Vânia.
Hoje quando estava vindo para o trabalho torci para não vê-la.
Torci lá no fundo do coração.
Mas nem sempre as coisas são como gostaríamos não é?
E lá estava ela, no mesmo banco, com as mesmas sacolas, sentada com sua coluna ereta.
A roupa também era a mesma, mas em seu colo repousava um travesseiro.
Desconforto.
Ela não é a única pessoa no Brasil a dormir ao relento.
Mas desconforto mesmo assim.
Almoço + lanche para viagem, trinta e dois reais.
Supermercado Zona Sul.
3 pães franceses
200 gramas de mozzarella
200 gramas de presunto
1 Wickbold
2 iogurtes
2 maçãs
1 pacote de cookie
Na fila pensei, água!
1 garrafa de água
Vinte e cinco reais e quarenta e quatro centavos.
Voltei ansiosa, com medo de ofender.
Fui até ela, ela comia uma quentinha, pedi licença.
Um lençol cuidadosamente dobrado separava o banco de concreto dela.
Éramos duas desconhecidas assustadas uma com a outra, colocando o pé dentro do desconhecido.
Disse que havia reparado nela, que sabia que ela não era dali e que havia comprado algumas coisas.
Ela me olhou sem entender.
Perguntei o por que ela estava ali:
– Vim a procura de um emprego.
– Mas de onde você veio?
– Nova Iguaçú.
– E você vai ficar aqui?
– Até achar um emprego.
– Posso perguntar seu nome?
– Vânia.
– Vânia cuidado na rua, e… boa sorte.
Entreguei as sacolas, algumas pessoas que estavam na praça me olharam.
Virei de costas e desabei a chorar.
Ufa, óculos na cabeça, modo invisível ativar!
Não, não desabei a chorar por ser uma excelente samaritana, eu não sou!
Por super ajudar os necessitados, eu mal ajudo!
Eu poderia sem duvida alguma ser um ser humano muito melhor do que sou, não tenho dúvida nenhuma.
E sei muito bem que não estou garantindo minha vaga no céu por isso.
Mas por uma razão fiquei com essa mulher na cabeça, dentre todas as pessoas que passam necessidades que cruzo e muitas vezes desvio.
Ao mesmo tempo em que a situação da Vânia se desenrolava tive uma enorme decepção em paralelo.
Daquelas que machucam o peito sabe?
E aí vi que meu choro era o choro da compensação.
Que mesmo a gente tomando uma porrada bizarra nunca devemos desistir de fazer o que o nosso coração acha correto.
Não posso mudar o mundo, mas espero que Vânia goste de cookies.