N/a Crônicas
Sábado de manhã, abro os olhos com o Tomás todo sério em pé me olhando com cara de assustado:
– Nick, você não sabe o que explodiu essa noite!
Meu cérebro que estava completamente pausado, chapado e desligado tenta se reconectar ao mundo e processar a informação.
O sono da gravidez, quando você consegue encaixar a barriga em um travesseiro ou em um montinho de lençol, pode ser deliciosamente definido – quando conquistado – como “um caminhão passou por cima de mim”, e religar um caminhão e um cérebro capotado requer paciência, tipo a que o Vô Fábio precisava ter para ligar seu Monza à alcool até conseguir funcionar de fato lá pelos anos 90.
– Que? Onde explodiu?
(França, Alemanhã, Turquia, já penso como ele já foi capaz de ler noticias essa hora.)
– A latinha de Sprite Zero que deixei ontem para você no freezer… A porta tá até aberta…
– Ahh.
Não sei se respiro aliviada, mas ao ver os restos mortais da lata estilhaçada percebo que foi grave.
Chego perto da cena do crime, que ainda não tinha a fitinha de isolamento, e sou aconselhada a me afastar, atrás de mim vem o cão todo pimpão.
Afasto o fanfarrão que já queria fazer o moço da selfie da tocha olímpica, todo animado carregando sua coberta furada com seu rabo balançando atravessando o furo e volto para cama.
Olho o relógio.
– Tom! Tom! Francisco deve estar explodindo (Turum tum tssss, analogia ao Sprite?)! Já são onze da manhã!!! Ele saiu para passear ontem seis da tarde, coitado!
– Nicole, são oito horas. E me olha do tipo: não tumultua, já tivemos tumultos demais para um sábado inocente de manhã.
– Oito da manhã? Ué… Meu celular está dizendo onze…. Por que será..? E franzo mais minha testa já franzida com toxina botulínica negativa.
– Ah, já sei! Roubei vidas no Farm Heroes ontem a noite, por isso o fuso-horario ! Hehehe, bem Beavis & ButtHead.
É Nicole, você tá um belo Monza à alcool tentando ligar em uma manhã fria de inverno.
Pega, desgraça, pega!
Não Chico, calma! É o meu cérebro, amigo, amigo.
